Freud
denunciou e a realidade sacramentou que, com algumas exceções, as filhas
mulheres são mais chegadas nos pais e os filhos homens nas mães.
Com
o passar do tempo, todavia, principalmente depois que conhecem a maternidade,
as filhas tendem a se reaproximar das mães, até porque já não há uma disputa
tão explícita pelo amor do pai.
Sei
que é muita psicologia para esta hora, mas já chegarei ao ponto que interessa:
minha mãe.
Ela
tem 93 anos e é a mãe mais lúcida que conheço. Pode-se conversar qualquer
assunto com ela, se for de política então... ela dá aula! Não é à toa que
pertence ao clã dos Vargas. Transferiu seu título para cá, porque se recusa a
ficar sem votar. E assiste aos horários políticos no rádio e na TV para votar
certo!
Seu
neto caçula, de uns tempos para cá, começou a fazer viagens internacionais, a
trabalho ou de férias, e ela o acompanha pelo telefone, esteja
ele onde estiver. Ele dá corda, manda logo o número do telefone do hotel,
ou da casa de família onde está hospedado e ela me pede uma "cola" em
inglês e manda ver! Vocês precisavam vê-la "ensaiando" a ligação,
caprichando no sotaque e querendo sempre explicar mais coisas do que o
aconselhável. O fato é que SEMPRE se faz entender e consegue falar com o
netinho.
Tempos
atrás ligou para o Canadá, apresentou-se à anfitriã como avó do Kadu e pediu
para chamá-lo. Ele ficou pasmo, pois chegara lá no dia anterior, mas foi o
jeito de sabermos detalhes de sua acolhida.
Então
fico pensando. Eu sei o suficiente de inglês para me comunicar, escrevo os
textos para ela e a ensaio, mas na hora de ligar fico mais tímida, prefiro que
ele me ligue a cobrar. Ela não, me dá trabalho fazê-la desmanchar o
"biquinho" de quem estudou muito mais francês do que inglês no
colégio, mas no resto ela se vira lindamente.
Esta
é minha mãe. Como perdi tempo brigando com ela na adolescência! Somos
diferentes, puxei mais ao meu pai e à minha avó, mas e daí? A admiração que
sinto por ela é ilimitada e fico orgulhosa ao vê-la sempre arrumada, perfumada,
de terço na mão, esperando alguém para conversar ou, pelo menos, beijocar um
pouco, pois é uma beijoqueira de marca maior. Precisa mais? Então vai, ela é
uma pequenina bonita, clarinha, de cabelos aloirados e grandes olhos negros,
com um sorriso eternamente estampado no rosto.
Não
é à toa que sua casa é o refúgio dos netos e bisnetos, que vivem ao seu redor e
ao alcance de seus abraços “de caranguejo”, com garrinhas amorosas e aderentes, que custam
a soltar a presa.
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