domingo, 6 de janeiro de 2013

CONTINENTE & CONTEÚDO



Aqui em Floripa tudo é o maior e melhor do mundo! Melhor qualidade de vida, melhor ensino, melhores praias, tudo melhor. Pelo menos para os governantes.
Na verdade, a Ilha da Magia tem um litoral caprichado, uma natureza linda de se ver lá de cima, do avião.  Cá embaixo muda um pouco, com os engarrafamentos, as filas, a superlotação de turistas, os acessos restritos por apenas duas pontes ligando a ilha ao continente e quem vive e trabalha aqui sofre no verão.
Há pouco construíram mais um Shopping Center e, é claro, a propaganda diz que é o maior, não sei se do Brasil ou da América Latina.
O fato é que nesse shopping há uma sala de cinema – certamente a mais moderna do mundo – que oferece poltronas como as da primeira classe dos vôos internacionais, que se remexem para todos os lados até a posição de deitar. Além disso, há um serviço completo de restaurante, com garçom e tudo, cardápio sofisticado, espumantes, carta de vinhos e o que mais o cliente desejar. Nada de pipoca!
Não consigo imaginar alguém jantando diante de um filme maravilhoso, de um diálogo como os de Woody Allen, de expressões densas como as das cenas de Almodóvar, enfim, como prestar atenção se empanturrando de comida? E depois, na hora da digestão, uma soneca na mega poltrona?
Que maravilha aquelas sessões de cinema que uns heróis anônimos colocam nas praças das cidadezinhas do interior nordestino, onde as pessoas se apertam em bancos duros de madeira e não desgrudam os olhos da tela até o filme acabar!
Lá no meu Alegrete o cinema aos domingos era obrigatório, as poltronas não eram estofadas e a gente comia bala, dropes ou chicletes, sem fazer barulho, prestando muita atenção e torcendo para a fita não arrebentar.
Hoje, as pessoas entram na sala de cinema como quem vai para um piquenique; mãos lotadas de comida e bebida e aquele barulhinho irritante dos pacotes sendo abertos durante a sessão. Celulares tocando e acendendo luzes, mensagens sendo enviadas e recebidas o tempo todo completam a cena.
Pois agora, para quem o menos importante já era o filme, temos restaurantes a bordo! É o sofá da sala levado ao shopping.
Na verdade, alguns filmes bem que merecem esse tratamento, já outros... pelo amor de Deus!


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