quarta-feira, 26 de setembro de 2012

DESAPEGO




Palavrinha já gasta de tão repetida num comercial de TV. Mas, para alguns, difícil de realizar.
Desapegar das pessoas é muito mais difícil; no entanto, de coisas materiais deveria ser mais fácil.
Conheço pessoas (e quem não conhece?) incapazes de se desfazer de um sapato velho, uma bolsa mofada, um brinquedo quebrado, nada que seja “seu”. Dizem que é doença, eu já penso em egoísmo mesmo e falta de visão de mundo e de vida.
Meus maiores tesouros materiais são meus livros. Todos escolhidos com cuidado, lidos com atenção e tratados com respeito. Empresto muito, às vezes não devolvem, consola-me o fato de que tenham sido lidos, manuseados, compartilhados.
De vez em quando, a estante começa a reclamar do peso e da falta de espaço para estampar os sorrisos dos netinhos. Então já sei que é hora de desapegar.
Hoje pela manhã dediquei-me a isso. Sobe e desce de escadas, seleção, caixas separadas por assunto, área e destino. Agora vem outra parte trabalhosa. Mesmo que a gente doe, ninguém manda buscar os livros em casa. Temos de levar, entregar e, de vez em quando, receber um sorriso e um agradecimento.
O Brasil tem uma taxa baixíssima de leitores. E são raros os escritores que sobrevivem de seus livros. Poucos deixam de comprar um CD ou uma caixa de chocolates para comprar um livro. E, quando compram, não lêem!
Na Europa, dá gosto ver os parques, praças, metrôs, tudo repleto de pessoas lendo, mal acomodadas, no sol mesmo, de pé no transporte e sempre lendo. Muitas livrarias, muitos títulos espalhando cultura e aventura por todo lado.
Aqui, infelizmente, é muito diferente. A maioria das pessoas só possui livros “presenteados” e, ainda assim, poucos abrem para ler.
Pois hoje separei quatro caixas de livros e daqui a pouco iniciarei a distribuição deles. São pesados, difíceis de carregar, no entanto, estão dormindo na estante desde que terminei de lê-los e agora, com outros donos, vão voltar a respirar. A Biblioteca do bairro também receberá títulos novos e quem sabe alguma pessoa se sentirá atraída por eles e aprenderá a apreciá-los?
Vamos exercitar o desapego! O Dia da Criança está próximo, ótima ocasião para separar brinquedos em bom estado e fazer uma criança sorrir.
Vamos lá! Não dói nada e a sensação de plenitude é bem maior do que quando tínhamos aquele excesso de coisas ao nosso redor.
Minha estante que o diga!


Um comentário:

Anônimo disse...

Tenho doado muitos livros para a biblioteca do colégio onde trabalhei por mais de 26 anos. Será que é o melhor local? Os alunos cada vez leem menos. Talvez aquelas estantes colocadas pela prefeitura no terminal urbano atraiam mais leitores. Elizabete