Não adianta, entra ano e sai ano e, a
qualquer tempinho de paz que eu tenha, nos dias que antecedem meu aniversário,
lá vem este ridículo exame de consciência, pesando e medindo tudo o que sou e
faço e cada vez me conhecendo menos, ou, pelo menos, tendo mais dúvidas.
Às vezes me pego questionando se eu
não fui uma daquelas garotas CDF chatésima, caretésima, preocupada em agradar
os adultos e em não transgredir. Já pensei até em perguntar aos meus amigos da
vida toda se eu não era assim.
Nunca experimentei nenhuma droga (só
cigarro), nunca acampei com uma turma de amigos, nunca dormi na casa das
colegas nem levei algum colega (homem) para dormir na minha casa. Casei virgem!
Claro que cometi vários “deslizes”,
mas tudo coisa pequena, que a mim (e à minha família) pareciam monstruosas.
Tipo namorar escondido, pegar a mão no cinema, matar uma aulinha, nada que
comprometesse minha educação espartana.
Hoje sinto mais saudade das coisas
erradas que fiz; engraçado...
Sei que estou me transformando numa
Madre Tereza porque a vida me colocou no eixo central de toda a minha família e
parece que só eu consigo fazer a roda girar e as coisas acontecerem. Não me
queixo, acho até que é um papel gratificante, pois significa que sou útil e
capaz. Às vezes me sinto cansada, mas uma noite de sono conserta tudo. Só
lamento a falta de tempo para o piano e a literatura.
Curioso é que quase aniversariando dei
para lembrar momentos felizes de anos atrás, um chopinho ao pôr-do-sol embalado
pelas espirais de fumaça do meu cigarrinho de saudosa memória, as noites de
muita dança, excessos de todo o tipo, sono atrasado, pilhas de livros para
estudar e eu tão viva, tão cansada, tão ativa, tão errada, tão frenética, rindo
alto, chorando bastante, sentindo mais raiva, mais ciúme, mais tesão.
Este texto não é conclusivo. Faz parte
das minhas reflexões pré-natalícias.
Preciso comer minha linhaça, meu
feijão branco moído, meu pão de amaranto, bebendo um chá verde ou branco,
legumes orgânicos, frutas da estação, tudo para ter uma velhice saudável. Ai,
ai, ai...
Será que não pega bem uma mulher da
minha idade sentar num barzinho à beira da praia e tomar um chope gelado,
relembrando os bons tempos, ao invés da louvada água de coco?
Que velha pretendo ser? Acho que esta
é a questão central.
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