domingo, 22 de janeiro de 2012

VESTIDOS

     Numa época da vida as festas pululam. São os filhos e os filhos dos amigos que fazem quinze anos, debutam, se formam, casam. Bem mais tarde, se não morremos antes, tornam a surgir as festas para os netos e netos dos amigos, quando já não podemos beber, nem dançar e as roupas não caem direito.
     Entre uma época e outra as festas rareiam, como num intervalo conveniente aos bolsos, embora deixem saudade em que as aprecia. Filhos formados, casados, é a época das festinhas infantis dos netos e as bodas dos amigos que souberam e conseguiram se manter casados.
     Nesta entressafra, vez por outra, surge uma festa esporádica e somos impelidos a abrir o baú e resgatar os melhores vestidos. Pendurados no alto dos cabides, imponentes, trazem consigo um mar de recordações. A emoção de ver os filhos recebendo o diploma, ingressando na vida adulta, formando seus pares na vida, os rodopios nos bailes, a pose para as fotos, o orgulho de fazer parte do momento e das conquistas.
     O tempo passa, depois de “certa idade” as mudanças físicas suplantam as emocionais e a frustração diante dos brocados e pedrarias é iminente. Modelos exclusivos, ajustados no corpo, marcando bem a cintura, desenhando a curva dos quadris, não aceitam nada além daquelas medidas para as quais foram confeccionados.
     Tão bom se ver livre do cigarro! Maravilha o novo perfume da casa, das roupas, dos cabelos, livres daquela morrinha enjoativa do alcatrão!
     Agora, os anos de tabagismo garantiram um determinado metabolismo em nosso corpo, que fica totalmente desregulado e preguiçoso quando abandonamos o vício. Nem precisamos comer doces, ou gulodices em excesso, até um cacho de uva assume proporções gigantescas na dieta.
     O resultado é a perda total do guarda-roupa, incluindo, para nosso pesar, os lindos vestidos de festa!
     Ei-los desfilando à minha frente, majestosos, vaporosos, bordados... com um sorriso de mofa às minhas tentativas de vesti-los! - Maldito zíper, deve estar emperrado! Nada disso, Porto Alegre não cabe mesmo dentro do Alegrete!
     O jeito então é emprestá-los à nora e sair, muito a contragosto, à procura de outro... provavelmente caro e sem corresponder às nossas expectativas.
     E assim registro mais uma desilusão desta que teimam em chamar de “melhor idade”. Arre!




Um comentário:

Luiz Barboza Neto disse...

Impressionante, querida ML.
Você conseguiu narrar uma "grande tristeza" com muita alegria.
Como dizem os "manés":
Arrombasse!