domingo, 25 de setembro de 2011

SABOR DE INFÂNCIA


Que a infância é a melhor parte da vida é quase um consenso. Às vezes, não nos damos conta disso quando ainda somos crianças, mas depois... mesmo pessoas que tiveram uma infância pobre , cheia de privações, ainda encontram bons momentos para recordar. Apenas crianças que sofreram maus tratos não gostam de lembrar da infância.
Por esta certeza é que concluí, não faz muito tempo, que as melhores coisas da vida dependem do contexto em que acontecem. Assim, uma macarronada com a família reunida, alegre, falando junto, rindo, certamente será a melhor macarronada do mundo e não adianta repetir a receita num ambiente hostil que o sabor irá embora.
Sempre gostei muito de cozinhar e as melhores lembranças de temperos, massas, doces de calda certamente trago da minha infância e da cozinha da minha avó.
Meus sobrinhos, certa vez, comeram um pavê de chocolate feito por mim, numa época em que eles brincavam o dia todo, nas férias, na casa dos avós. Nunca mais esqueceram e, já moços, pediam à mãe que conseguisse a receita comigo. De certa feita ela pediu, fez exatamente igual e eles não reconheceram o sabor. Por quê? Porque faltava a infância, os animais no quintal, as crianças livres na rua, os avós, as férias.
Para confirmar minha tese andei perguntando para várias pessoas o sabor de que eles mais lembravam e a que ele estava associado. Todos remetiam à infância, embora variasse a pessoa que preparou e o próprio alimento.
Minha mãe diz que atravessava a rua para comer mingau na casa da vizinha de frente, embora os da mãe dela fossem deliciosos. Acontece que a vizinha era um doce de pessoa e tratava as crianças muito bem, já a mãe dela era brava e exigente.
Meu pai sempre falava num doce de batatas que ninguém fazia igual à mãe dele. De certa feita, minha mãe pediu à sogra que preparasse para ela aprender. Ele ficou decepcionado, não reconhecendo mais o sabor da sua infância.
Minha mãe nunca soube nem gostou de cozinhar. Mesmo assim, fazia um bolo aos sábados, quando não trabalhava na escola. E, para nós, era um sabor inigualável, muito embora minha avó enchesse de defeitos. Para os netos ela fazia arroz com salsichas e ovos, depois da piscina, nas férias, e eles até hoje acreditam que ninguém prepara melhor este à la minuta .
O melhor tempero é o afeto e a melhor refeição é aquela que acontece num contexto de harmonia e carinho.
Quero cozinhar muito para os meus netos, porque os meus filhos certamente já têm seus pratos-recordação, uma vez que cozinhei muito para eles e sempre procurei fazer das refeições um momento de encontro, de troca de idéias, com eles elogiando cada prato, interessados nos ingredientes, alguns manifestando vontade de aprender, outros só de comer mesmo.
E você? Qual seu prato preferido? Quando comia? Onde? Quem preparava?
Tente lembrar e verá como a memória dá um salto e, por uns momentos, você se verá novamente pequeno, naquela situação onde o alimento lhe foi oferecido. É uma boa sensação, acredite!


3 comentários:

Francisco Carlos D'Andrea (francari) disse...

Meu prato com sabor de infância era preparado por minha mãe e ela o chamava de pinholata (ou, talvez, piñolata); era uma massa doce feita em rolinhos e depois cortada, como quem faz nhoque, mas de tamanho bem menor, metade ou menos do tamanho de um nhoque. A massa era depois frita no mel, ficava uma delícia. Muitos anos depois, a mãe veio até minha casa, refez sua receita, mas o sabor havia se perdido no tempo. Pena!

Ana luiza disse...

Meu prato favorito é im "pastelão" feito com uma massa bem fininha e recheado de "guisado com azeitonas,e depois pincelado com ovo.Quando sai do forno dourado e fumegante,pois adorava comer quente.Pois é doces sabores da infância que os anos não trazem mais.

Anônimo disse...

Realmente, o sabor da infância vai-se com os anos. Será que a Lacta mudou a receita do Sonho de Valsa, ou ele era mais gostoso antigamente, por conta do prazer da infância ? Elizabete