domingo, 25 de setembro de 2011

BANZO



De vez em quando, lá pelas voltas da vida, bate uma saudade forte, imprevisível e inexplicável da terra da gente.
Claro que isso só acontece com quem não teve o privilégio de viver para sempre na terra onde nasceu e cresceu.
Os negros escravos chegavam a morrer desta melancolia, a que chamaram “banzo”. Obviamente, apenas os que tinham sido arrancados de sua terra – a África – é que padeciam desta tristeza infinita.
A língua portuguesa é tão rica que possui uma palavra para denominar, com exatidão, o que se sente quando vivemos longe do lugar onde ficaram nossas raízes - saudade.
É isso que deixa meu coração apertado, dolorido, quando lembro do rio Ibirapuitã, da Praça Getúlio Vargas, da Rua Mariz e Barros, do colégio Oswaldo Aranha, dos amigos, da paisagem, do cheiro de terra molhada quando começava a chover forte.
No clássico “E o vento levou”, Scarlet O’Hara segura um punhado de terra da propriedade de sua família – Tara – exaltando a importância da terra na vida das famílias, compondo com o solo uma unidade indivisível.
Impelido a abandonar o Brasil, D. Pedro levou um travesseirinho de terra brasileira, como forma de não se afastar completamente da pátria que amava.
E eu, que só tenho fotografias do meu Alegrete!
Não, eu o trago nas retinas, no coração, no jeito de ser, de falar, nas comidas, nas músicas, no mate amargo e, principalmente, no sorriso aberto e abraço apertado, marcas registradas de nossa gente.
Bairrismo, saudosismo, saudade, banzo...o nome não importa. O que conta mesmo é saber que, passe o tempo que passar, quando dobro à direita na BR 101 e entro no trevo de acesso à cidade, já começo a reconhecer as pessoas e a ser mais inteira, mais completa, eu mesma.
Daqui a pouco estarei voltando aos pagos, revendo a casa onde nasci, meus amigos e vizinhos de toda uma vida e até gente nova, que conheci neste mundo virtual.
Cuidem bem do nosso Alegrete, pois, em cada canto do país e até mundo afora, tem sempre um alegretense “acuando de saudade” do pago.
Grande abraço.

Um comentário:

Francisco Carlos D'Andrea (francari) disse...

Belo texto, retrata com exatidão o sentimento de quem está longe de suas raízes. Ainda bem que no próximo dia 1º estarei voltando ao Alegrete, ainda que só por 2 dias.

Quanto ao pretenso banzo que matava os escravos, é pura lenda: eles morriam por serem amontoados em porões infectos de navios, sem espaço, sem ar puro, sem luz solar e convivendo com os próprios dejetos, sendo quase um milagre que alguns sobrevivessem. Banzo? Não, apenas condições desumanas de tratamento, como desumana era a escravidão.