terça-feira, 21 de junho de 2011

LONGEVIDADE x MODERNIDADE

            Minha avó Odith viveu entre nós 96 anos. Lúcida, sem doenças específicas, quase sem rugas, padecendo apenas de um desgaste natural da velhice.
         Curioso é que ela nunca comeu linhaça, nem tomou refrigerantes diet, tampouco comeu comidas light.
         Gostava, isso sim, de um café com leite cheio de nata, fazia comidas e doces com muitos ovos na receita (das suas galinhas do pátio) e frutas, para ela, eram apenas as bananas (compradas) e laranjas, figos, pêssegos, peras, caquis e ameixas do seu pomar. Chá e maçã só quando ficava doente.
         Nunca bebeu, nem fumou, sequer tomou chimarrão.
         Gostava mesmo era de um chocolate quente com merengue, pastéis e viajantes, matambre recheado, rei alberto, pudim de pão, cuca, galinha ao molho pardo, feijão mexido e outras coisinhas "leves" assim.
         O que nos envelhece e nos mata são os excessos, os produtos industrializados, os defensivos agrícolas, os hormônios nos animais, os conservantes, acidulantes, corantes e o diabo a quatro.
         O que acaba conosco é o estresse, a tensão, o medo, as ameaças de todo lado, os desajustes familiares, as cobranças, o relógio, a pressa.
         Minha avó nunca trabalhou fora, não teve patrão, fazia tudo no seu ritmo, da maneira como preferia.
         Vaidosa, bonita, arrumada, perfumada, "fofinha", dizia que só se pode emagrecer quando jovem, senão ficamos "pelancudos".
         Quando viuvou, fomos morar na casa grande dela e dormi durante muitos anos no seu quarto espaçoso. Ali aprendi muita coisa que uso até hoje na minha vida de mulher, de mãe e de avó.
         Fico imaginando sua repulsa se visse as galinhas pálidas de hoje, os ovos sem cor, pessoas pastando como os animais no campo, entupindo-se de sementes e comendo de sobremesa uma barra de cereal light. Os leites aguados, a água comprada, os pratos no colo diante da TV ligada, a família se encontrando tão pouco, num desregramento ímpar. As roupas prontas mal assentadas, os brancos encardidos na máquina de lavar, as crianças subnutridas à base de fast food, salgadinhos e refrigerantes, mandando na casa e nos pais, escravizadas diante de programas de TV importados de outras culturas e brinquedos que brincam sozinhos.
         É, acho que minha avó mudou de plano na hora certa.
         Penso que ela não gostaria muito de viver nesses tempos. Isso que não falei nem a metade do que precisamos suportar.
         A questão é que eu ainda sinto tanta saudade dela...

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