Profundidade e Singeleza -
“-
Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo!
Eu
creio em Deus! Deus é um absurdo!
Eu
vou me matar! Eu quero viver!
-
Você é louco?
-
Não, sou poeta."
Mário
Quintana
Minha apresentação à poesia e à pessoa de Mário Quintana deu-se no IEOA, em
Alegrete - RS, quando tinha onze anos e declamava suas "Cirandas" com
o Orfeão "Carlos Barone" cantando ao fundo. Foi admiração à primeira
vista!
Desde então, leio Quintana do meu jeito: devagarzinho, cismando a cada poema,
para melhor compreendê-lo e saboreá-lo.
Bairrista,
nunca advoguei para Alegrete a sua cidadania, por entender que o poeta, como o
escritor e o artista, não têm nacionalidade - é cidadão do mundo.
Da mesma forma, não creio que ele tenha morrido. Desde quando morre quem deixa
no mundo uma alma tão rica e variada, eternizada em livros? Nem foi preciso a
Academia Brasileira de Letras imortalizá-lo, porque um poeta como Quintana já é
"imortal".
"Escrever
um livro, plantar uma árvore e ter um filho" era a receita corrente da
perenidade humana. Mas são tarefas simples, acessíveis a qualquer mortal. O
livro é mais complicado, todavia existem tantos livros ruins...
Extremamente difícil é deixar, para gerações vindouras, livros como os de
Quintana, sempre passíveis de releitura e aprofundamento.
Quando
fiz meu primeiro curso de pós-graduação, queria trabalhar Mário Quintana na tese.
Não encontrei orientador disponível, nem com conhecimento bastante da sua obra.
A Disciplina "Teoria do Poema" foi a gota d'água para eu desistir do
tema e não assassinar a poesia, de que gosto tanto. Parece que a minha sintonia
era (e continua sendo) maior com o poeta do que com a teoria poética e foram
frases dele mesmo que me autorizaram a discordar daquela "estripação"
feita nos versos. Dizia Mário:
"(...) Mas
continuo achando que um poema (um verdadeiro poema, quero dizer), sendo algo
dramaticamente emocional, não deveria ser entregue à consideração de robôs que,
como todos sabem, são inumanos. (...) Nas suas pacientes, afanosas, exaustivas
furungações, são exatamente como certas crianças que acabam estripando um
boneco para ver onde está a musiquinha."
Não escrevi uma tese sobre Mário Quintana, mas vou continuar lendo-o e
divulgando-o aos meus alunos, sem exigir interpretação, pois "... afinal,
para quê interpretar um poema? Um poema já é uma interpretação”.
Não fui ao enterro de Mário Quintana. À família e amigos mais chegados cabia
enterrar o corpo do poeta. Numa das prateleiras da estante de livros vejo que
tenho o melhor dele - seus livros. E me sinto um pouco dona desse eterno
menino, que nos encantou por 88 anos!
Esta crônica foi escrita
e publicada em junho de 1994 e consta do meu livro GAZETEANDO, na página
85.
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Um comentário:
Perfeição existe: eis a crônica perfeita sobre o Mário Poeta e sua Poesia.
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