quarta-feira, 11 de agosto de 2010

FAMÍLIAS EM TRÂNSITO

               Sempre sonhei em viver num verdadeiro clã. Avós, pais, filhos, netos, irmãos, sobrinhos, tudo no mesmo terreno, ou numa pequena "vila", convivendo e confraternizando diariamente, excluindo do dicionário esta tal de saudade , que de poética não tem nada e só maltrata a gente.
                 Meu sonho de consumo era ter um prédio onde cada filho ocupasse um andar, ou uma casa rodeada por outras casas, onde as crianças se criassem juntas e os adultos passassem por esta vida muito próximos, se ajudando, acompanhando todos os momentos significativos, fáceis ou difíceis, uns dos outros.
                 Por uma dessas ironias do tal do Destino, meus irmãos se afastaram cedo - um para estudar na capital e o outro para me deixar com uma ferida eterna no peito. Eu casei cedíssimo, com um militar, e logo tive que me habituar (ou resignar) às mudanças. Vivi minha vida toda sentindo saudades, querendo estar aonde não podia, sem poder abraçar aqueles que mais quero bem.
                  Para completar, meus filhos também escolheram profissões que os solicitam em cidades industrializadas, com mais tecnologia, e vivem quase sempre longe do ninho.
                  Não queria arrumar quartos vazios; telefone e internet não diminuem minha saudade, acho triste ter que arrumar uma mala e viajar para poder beijar um filho. Houve uma época em que os três viviam longe, minha mãe também e só me restava a Pitty. Depois dois voltaram, minha mãe veio para cá e eu pude ser vovó em tempo integral. Temos três apartamentos no mesmo prédio, quase atingi meu ideal, por que será que os ventos me sussurram coisas que não quero ouvir? O papai de Bruna está desperdiçado num cargo público e as empresas já iniciaram seus convites... será que sobrevivo sem ela?
                    Conheço famílias que passaram a vida na mesma cidade, sem ao menos cogitar uma mudança; outras instaladas no campo, felizes da vida, com tudo passando suavemente de pai para filho.
                     Por que será que minha família está sempre em trânsito?
                    Acho que nunca me acostumarei a isso. Quando penso em quanto deixei de conviver com meu pai, com minha avó, tenho vontade de voltar atrás e fazer tudo diferente.
                     Não tenho alma de cigana. Definitivamente.
                  

Um comentário:

Jeanne Geyer disse...

Eu também queria todos juntos, não só familia como amigos. Não gosto mesmo de separações...
beijos