Às vésperas do seu segundo aniversário Bruna incorporou a palavra "medo" ao seu surpreendentemente vasto vocabulário. Diz que tem medo do Lobo Mau, se encolhe e pede colo quando ele aparece nos desenhos, mas algo me diz que ela está fingindo um medo para fazer charminho (ela é um protótipo de atriz).
Lucas, de seis anos, já é cheio de medos (até demais), como todo garotinho que assiste muita TV e joga muito vídeogame, sem uma adequada fiscalização.
Eu sempre tive mais medo dos mortos que dos vivos (meu pai ria e dizia que eu estava redondamente enganada), porque as histórias de assombração que as empregadas contavam eram mesmo de arrepiar.
Hoje meus medos mudaram. Medo de doenças, medo da violência, medo de todos os perigos que possam se aproximar dos meus filhos e , por último, medo da natureza e da sua força vingativa e destruidora.
Boatos pipocam por todo o lado prenunciando o apocalipse. O homem, que se vangloriava de dominar tudo e descobrir cada vez mais como fazer isso, está sendo destruído e soterrado por suas próprias obras.
Vento, chuva, mar, ingredientes poéticos que se transformaram em agentes de fúria assassina, comprazendo-se em levar tudo e todos que se interpuserem em seu caminho, desmoronando, soterrando, afogando, destruindo, matando.
O jogo de empurra político, procurando responsáveis, de pouco adianta.
A solidariedade do povo, mais do que comprovada, está sempre sendo posta em prática, mas de pouco serve para os que não conseguiram sobreviver.
As causas dos desastres são bem conhecidas, embora pouco ou nada se faça para evitá-las. Ocupações indevidas de encostas e morros - onde mesmo os pobres devem construir seus barracos? Na avenida central das cidades?
Educação, consciência ecológica, respeito com o meio ambiente ajudariam muito, mas qual o quê? Cada um só se preocupa mesmo com o seu quintal.
O planeta está esgotado, maltratado, sugado e o resultado aparece todos os dias nas mudanças do clima e nas catástrofes naturais.
Os boatos sobre o Apocalipse ganham força, até porque os boateiros de plantão se alimentam destas tragédias.
Agora, fala sério, você tem medo de quê?
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