sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Camaleoa

Quando temos mais tempo , nossa relação conosco mesmo também se altera. A passagem pelo espelho é mais demorada ( e quase sempre frustrante), a conversa com os vizinhos no corredor do prédio, no balcão da padaria, tudo é feito com mais vagar. No supermercado escolhemos, comparamos, reparamos na validade e até no rótulo dos ingredientes de produtos que comprávamos só pelo desenho às vezes, de tanta pressa. Na diminuição da correria cresce a análise de tudo e de todos, principalmente de nós mesmos. Quando somos bonitos,cheios de vida, de brilho, vivemos apressados, atrasados, sem tempo para nada. Agora, que nem gostamos tanto assim de nos prestar atenção, temos todo o tempo do mundo para acompanhar a trajetória de cada ruguinha, cada fio de cabelo branco e outras coisas de estética duvidosa que vão surgindo em lugares antes tão bonitos. Reparei, por exemplo, que tenho livre trânsito nas mais diversas rodas. Minha colega mais velha da hidroginástica tem 80 anos. E me faz confidências. Ex-alunas e companheiras de viagem de 17, 18 anos conversam livremente comigo, sem restrições. Cruzes, quando eu tinha a idade delas, alguém com 20 anos a mais já era considerada jurássica; a gente respeitava, mas conversar jamais. Converso bem com homens, quem sabe por ser de uma família onde eles são maioria absoluta. Só não gosto de futebol. Converso com ricos, conheço até o nome de algumas "finuras" necessárias ao seu convívio e não me sinto amedrontada ou diminuída diante de seus luxos. Tenho alguns bons amigos sem problema de dinheiro, poucos na verdade. Converso muito bem com pobres, com prestadores de serviço e até com mendigos. Adapto meu linguajar a cada tribo, sem dificuldade. Por isso me considero camaleoa. Porque sei ficar velha, jovem, quase criança, rica, pobre, operária, madame, enfim, só espero nunca esquecer quem na realidade EU SOU. Ou serei um pouco disso tudo? Se não finjo, nem minto, apenas me adapto, será que não possuo em mim um pouco de todas essas pessoas em quem me transformo quando necessário?

5 comentários:

Maria da Graça disse...

Oi amiga, lendo a Camaleoa parecia que até tinha sido eu a escreve-la, pois me sinto assim de uns tempos para cá, tenho me adaptado a tudo na vida situações boas e outras nem tanto, tentando tirar o melhor proveito e apreender alguma coisa sempre. Acho que essa semelhença da forma de encarar a vida se deve a idade...ou melhor a maturidade.Beijos. Maria da Graça.

Unknown disse...

Pra mim isto é maturidade consciente, tranquila, depois de uma vida bem vivida e muito futuro promissor à frente.
Sem frustações.
Tá ficando legal o blog, acho que este caminho de confidências vai fazer sucesso!
Muito sucesso, escreves bem, agora é só continuar.
Beijos

Marilia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marilia disse...

Se os teus textos continuarem assim, a notícia do blog vai se espalhar até na capital.
Estou colocando um link dele na minha página Alegrete. Espere os conterrâneos com o café no bule e água quente para o mate!
Beijos, coleguinha camaleoa.

Marília Cechella

Fernanda disse...

E assim é que devia ser com todo a gente, porém é tão frequente ver alguém completamente deslocado...

Mas talvez se alcance esse estado, após uma "vida bem vivida e muito futuro promissor pela frente",como disse a Jeanne. Acho que ela está certa.

Bjos