quarta-feira, 10 de julho de 2019

DOMÍNIO DE CLASSE


O curso de Magistério, quando bem feito, é muito importante para quem quer ser professor. O de Pedagogia também. Porque não basta o professor saber o conteúdo da disciplina que ensina, ele precisa saber transmitir seus conhecimentos aos alunos, precisa saber avaliar corretamente e, sobretudo, precisa ter domínio de classe.
O professor que não possui domínio de classe fala para as paredes, perde tempo acalmando os mais barulhentos, apartando brigas, dando explicações desnecessárias, repetindo mil vezes a mesma coisa. É como alguns pais que gritam o dia todo e os filhos nem ouvem mais, de tanto repetirem ameaças que nunca são cumpridas.
Os professores nunca foram tão pouco valorizados e nunca ganharam tão mal. De maneira geral, nunca foram tão mal preparados também. Não sabem conter a disciplina, confundem autoridade com autoritarismo, avaliam nas provas aquilo que nem souberam ensinar, não se envolvem com a totalidade da vida escolar, restringindo-se ao tempo em que está ministrando aula. E o resultado é uma educação cada vez pior, menos abrangente, menos eficaz.
Se a criança passa o recreio sozinha porque que os coleguinhas não querem brincar com ela, ou com ele, é assunto para o professor mediar e resolver sim! Principalmente nas séries iniciais, o professor é responsável (ou deveria ser) por todas as experiências da criança na escola. Não será apenas um fiscalizador de recreios que deverá mediar, mas o professor que conhece as crianças e pode modificar o comportamento delas.
Se os alunos na fase difícil da pré-adolescência formam grupinhos, se ofendem, se agridem é assunto para todos os professores interferirem e procurarem resolver, porque eles não estão ali apenas para despejar conteúdo e os estudantes para encher cadernos e apostilas. Uma vida integral se passa dentro dos muros da escola e há que existir professores capacitados para atender a demanda da idade, além do conteúdo da sua disciplina.
Ontem, minha neta voltou chorando de uma Gincana na escola. Uma escola renomada, particular. Disse que as outras turmas cantavam versinhos com palavrões ofendendo as turmas rivais e que os próprios colegas se ofendiam nos jogos, menosprezavam quem errava nos esportes, enfim, um ambiente que de festivo se tornou hostil. E cadê os professores responsáveis? Os mediadores? Os orientadores?
A outra pequena, que recém saiu da Educação Infantil, contou-me que fica sozinha no recreio porque ninguém quer brincar com ela e ela não sabe brincar sozinha. Valha-me Deus! Como podem deixar isso acontecer?!
Sabemos que as famílias estão deixando muito a desejar na educação dos filhos. Mais uma razão para os professores se esmerarem em suprir essa falta! Ah, não quer fazer mais do que a obrigação? Mude de profissão então! Educação é integral ou não é! Ninguém é obrigado a ser professor, no entanto, quem se sente realmente vocacionado para o magistério deve saber que esta é uma missão importantíssima e que não é para qualquer um.
Em Hiroshima e em outras cidades do Japão, assisti muitas turmas passeando, visitando museus, castelos e parques e fiquei admirada do comportamento deles. Um só professor, os homens de terno e as professoras de roupas bem comportadas, meias finas, sapatos fechados e turmas imensas uniformizadas e silenciosas, atentas a  qualquer palavra do professor, entrando em trens, metrôs, sem causar o mínimo transtorno. Num parque de Hiroshima uma professora de meia idade, pequenininha, comandava uns duzentos adolescentes. A uma palavra dela todos sentaram na grama e ficaram ouvindo as explicações atentamente, até que ela os mandou levantar com um pequeno gesto de mão e eles já formaram a fila para entrarem no museu. Nem uma palavra lá dentro, fazendo anotações, murmurando dúvidas, realmente uma coisa de outro mundo para nós.
São essas atitudes que o brasileiro deveria procurar imitar, já que adora copiar coisas erradas de outros países.
Gostaria que este texto chegasse aos educadores e que eles refletissem sobre a sua atuação e sobre a profissão que escolheram.


 











Nenhum comentário: