Agradecendo o convite e a confiança de Milton Pantaleão
Júnior, filho do meu dileto amigo Milton Pantaleão, vou compartilhar aqui um
pouco da minha experiência como escritora independente de catorze livros solo,
além da participação em mais de cinquenta Antologias.
Escritores independentes compõem uma nova tendência no
mercado editorial brasileiro, saturado de autores estrangeiros e meia dúzia de nacionais
– sempre os mesmos – que vendem bastante porque as grandes editoras investem
neles. Investem na distribuição de suas obras, ou conseguem incentivos e
parcerias com órgãos públicos e/ou privados.
Inclusive nos grandes concursos, que trazem visibilidade,
prêmios e publicações, os vencedores acabam sendo quase sempre os mesmos, já
conhecidos do público. Não há investimento ou oportunidades para novos
escritores.
As grandes editoras alegam que os escritores independentes
fazem uma tiragem pequena, porque sai caro, e isso dificulta a distribuição em
larga escala. Sendo assim, o escritor tem dificuldade de fazer seu livro chegar
ao leitor. Além disso, o preço unitário
de livros produzidos em menor quantidade não é competitivo com os balaios de
livros oferecidos nas Feiras, com preços reduzidíssimos, porque mal traduzidos
e impressos aos milhares. Esses livros, mesmo vendidos a cinco ou dez reais
apenas, ainda trazem lucro para as editoras.
A distribuição é crucial! Algumas livrarias até aceitam
comercializar seus livros, mas eles ficam escondidos, colocados de lombada nas prateleiras, nunca são expostos
com destaque e os leitores raramente chegam a vê-los.
No Brasil, já foi comprovado por pesquisas sérias que 44% da
população não lê e 30% nunca comprou um livro! E que as mulheres leem mais do
que os homens.
Os meios digitais auxiliam a exposição dos novos autores e
muitos livros são oferecidos e comercializados nas redes sociais. Nesse caso, o
escritor deve acrescentar às suas funções a de empacotador e distribuidor,
enfrentando filas nos Correios, pagando taxas para que seus livros cheguem a
quem se interessou por eles. Depois, o retorno, quase sempre muito positivo,
comprova que sua obra poderia ser apreciada por uma camada bem maior da
população, caso o mercado editorial não fosse fechado e injusto como é.
A falta de ousadia do mercado editorial tradicional e das mega livrarias são responsáveis pela atual crise e falência do ramo. O público
quer novidades!
Feiras do Livro e, sobretudo, Feiras Independentes são
importantes vitrines para os novos autores. Não há como classificar um autor
sem que ele chegue a ser testado pelo público leitor. Só assim ele poderá ser
julgado e a função do mercado editorial deveria ser a de intermediar esse
contato.
Um escritor 100% independente escreve, revisa, edita, paga e
distribui seu livro. Eu não me considero totalmente independente, porque
publico através da Editora Alternativa, numa parceria que tem dado muito certo.
Pago as edições e as ilustrações dos livros infantis do meu bolso e cabe também
a mim vender os livros para tentar reaver pelo menos parte do investimento, possibilitando
novas edições e novos livros.
Depois de meses
trabalhando num livro, às vezes anos, conseguimos mandá-lo para edição,
juntamos as economias para fazer o pagamento e recebemos caixas cheias de
livros ocupando bastante espaço na casa. Olhamos para elas e pensamos: - E
agora?
Mesmo sabendo que nossos livros são bons, que o trabalho foi
bem feito temos que ficar oferecendo e insistindo nas redes sociais para que os
leitores cheguem a conhecer e possam desfrutar de algo que sabemos que tem
qualidade.
Não é fácil vender livros no Brasil!
Para muitas pessoas, dinheiro gasto em livros é dinheiro
“jogado fora”. Alguns compram para agradar o autor e não leem. Nesse caso,
melhor ler emprestado do que comprar e não ler. Outros, não apreciam receber
presentes de livros e dão qualquer quinquilharia para as crianças, que logo
serão deixadas de lado, ao invés de procurar incentivar a leitura desde cedo,
com presentes bem mais duradouros e enriquecedores.
Meia dúzia de escritores nesse país consegue sobreviver da
sua escritura. A grande maioria escreve porque gosta, porque precisa, porque se
expressa melhor por escrito. Mas faz isso nas horas vagas, sabendo que não terá
retorno financeiro, ao contrário, seu saldo bancário diminuirá a cada livro
publicado.
Sem um centavo de lucro, por exemplo, consigo vender meus
livros infantis a R$ 15,00. Compare com um daqueles de R$ 5,00 nas Feiras.
Grandes, coloridos, bem ilustrados, mas sem enredo algum. Conte as histórias de
ambos para as crianças e ouça a opinião delas.
Quem escolhe e distribui – em larga escala – livros para as
escolas raramente dá esta oportunidade a um novo autor brasileiro. Serão sempre
os mesmos nacionais, ou os tantos traduzidos. A criança é conquistada pela
capa, pelo tamanho do livro e das ilustrações e seus genitores e professores
pelo preço. Só.
Hoje, o poder das grandes editoras está sendo questionado e
o leitor não quer mais ler apenas o que elas decidirem que é bom, ou que deve
ser lido.
O autor, através das mídias digitais, está conseguindo
chegar ao leitor e o retorno tem sido muito positivo.
Existem leitores para
os BONS LIVROS de escritores independentes! No entanto, há que ter capricho,
cuidado e revisão nesses livros, não deixando que a ansiedade de publicar
diminua a qualidade do produto final.
É mais fácil o autor ter uma boa relação com uma editora
pequena do que com uma grande, para quem os novos autores não são nada, porque
não têm retorno garantido.
Resumindo, os escritores independentes podem ser comparados
a feiras de produtos orgânicos, aos trabalhos artesanais, aos pequenos
produtores. E Feiras do Livro independentes são vitrines adequadas para a aproximação
do escritor com o leitor.
“Quem não é visto, não é lembrado.”
Se as livrarias grandes, médias e pequenas proporcionassem
um espaço adequado às obras dos escritores independentes.
Se as escolas
privilegiassem os livros dos autores nacionais ainda pouco divulgados nas suas
aulas e bibliotecas.
Se em todos os bairros houvesse livrarias próximas às casas
das pessoas.
Se os shoppings centers, supermercados, cafeterias, lojas de
conveniência, aeroportos, rodoviárias concordassem em expor livros de autores
brasileiros menos conhecidos.
Certamente os escritores independentes poderiam fazer chegar
aos lares brasileiros uma literatura nova, arejada, com as cores da nossa
cultura, com o sabor do nosso povo, com as belezas do nosso país.
Não desanimemos, portanto! Com trabalho e perseverança vamos
alargando esse mercado editorial e conquistando nosso lugar nele.
Fé e força escritores!
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