Como professora e acadêmica preparei incontáveis Currículos
durante a vida. Para emprego, para concursos, para apresentação, para
palestras, enfim, parece que volta e meia tinha que elencar tudo o que eu
estudara e escrevera, enfeitando ao máximo, para ver se conseguia mais pontos.
Depois, só os cursos com mais de quarenta horas de duração tinham valor e já
começou o descarte do excesso. Mais adiante, os Currículos deveriam ser
sucintos e diretos e aí, quem vivia se inscrevendo em tudo quanto era curso (e
pouco aproveitava deles), começou a ver que deveria efetivamente se
especializar.
Com toda a dificuldade que uma mãe sozinha com três filhos
pode ter, morando longe de toda família e com a grana sempre curta, fui até o
Doutorado em grandes Universidades e só não fui além porque teria que sair do
país e meus filhos já estavam se encaminhando para suas profissões, sendo que
não poderia prejudicá-los, nem queria me separar deles. Pós-graduada em
Literatura Brasileira, podem bem imaginar a quantidade de livros que precisei
ler e estudar. Pois no Currículo, em poucas linhas detalhava meus Cursos, minha
experiência e os idiomas em que era proficiente, sem maiores delongas.
Quando comecei a editar meus livros e também nas minhas
participações nas coletâneas, sempre busquei resumir, enxugar, ser o mais breve
e clara possível. E me surpreendia vendo alguns escritores ocuparem um espaço
bem maior para seus dados biográficos do que efetivamente para seu texto ou
poema. Sempre fiquei curiosa para saber
se alguém realmente lia aquilo, se dava valor, ou se até desconfiava da
veracidade das informações.
Dia desses fiquei tentada a citar todas as minhas
participações em Antologias, junto com meus livros solo. Não era por
exibicionismo, era para eu mesma saber, já que perdi a conta das minhas
participações. Mas desisti. Não pago mais para escrever. Se não recebo nada,
pelo menos que meu texto seja valorizado o suficiente para não precisar pagar
por ele. Algum degrau nessa cadeia ingrata de escrevinhador brasileiro eu teria
que subir.
Um Diploma de Doutora em Letras, três filhos fora de série,
netos encantadores e dezenove livros publicados resumem o essencial. Todo o resto é
enfeite.
Ficou fácil preencher o meu Currículo depois que entendi que
o “essencial é invisível aos olhos” e que “o homem que diz Sou, não é. Porque
quem é mesmo, não diz”.
Perceberam?!
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