quinta-feira, 30 de junho de 2016

CURRÍCULO DE VIDA




                           Como professora e acadêmica preparei incontáveis Currículos durante a vida. Para emprego, para concursos, para apresentação, para palestras, enfim, parece que volta e meia tinha que elencar tudo o que eu estudara e escrevera, enfeitando ao máximo, para ver se conseguia mais pontos. Depois, só os cursos com mais de quarenta horas de duração tinham valor e já começou o descarte do excesso. Mais adiante, os Currículos deveriam ser sucintos e diretos e aí, quem vivia se inscrevendo em tudo quanto era curso (e pouco aproveitava deles), começou a ver que deveria efetivamente se especializar.

                           Com toda a dificuldade que uma mãe sozinha com três filhos pode ter, morando longe de toda família e com a grana sempre curta, fui até o Doutorado em grandes Universidades e só não fui além porque teria que sair do país e meus filhos já estavam se encaminhando para suas profissões, sendo que não poderia prejudicá-los, nem queria me separar deles.  Pós-graduada em Literatura Brasileira, podem bem imaginar a quantidade de livros que precisei ler e estudar. Pois no Currículo, em poucas linhas detalhava meus Cursos, minha experiência e os idiomas em que era proficiente, sem maiores delongas.

                           Quando comecei a editar meus livros e também nas minhas participações nas coletâneas, sempre busquei resumir, enxugar, ser o mais breve e clara possível. E me surpreendia vendo alguns escritores ocuparem um espaço bem maior para seus dados biográficos do que efetivamente para seu texto ou poema.  Sempre fiquei curiosa para saber se alguém realmente lia aquilo, se dava valor, ou se até desconfiava da veracidade das informações.

                           Dia desses fiquei tentada a citar todas as minhas participações em Antologias, junto com meus livros solo. Não era por exibicionismo, era para eu mesma saber, já que perdi a conta das minhas participações. Mas desisti. Não pago mais para escrever. Se não recebo nada, pelo menos que meu texto seja valorizado o suficiente para não precisar pagar por ele. Algum degrau nessa cadeia ingrata de escrevinhador brasileiro eu teria que subir.

                            Um Diploma de Doutora em Letras, três filhos fora de série, netos encantadores e dezenove livros publicados resumem o essencial. Todo o resto é enfeite.

                            Ficou fácil preencher o meu Currículo depois que entendi que o “essencial é invisível aos olhos” e que “o homem que diz Sou, não é. Porque quem é mesmo, não diz”.

                           Perceberam?!




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