Não cheguei a conviver com os dinossauros, mas, na
velocidade em que as coisas vêm mudando, parece que meu tempo está tão longe
que não sei como ainda não comemorei um século de vida.
Quando coloco um CD da Jovem Guarda no carro, preciso traduzir
para os netos o que significa “brotinho”, “pão”, “dando mole” e coisas pra mim
tão corriqueiras e para eles quase uma língua estrangeira. Até falar em carta,
pombo correio, tudo isso é muito abstrato para essa geração ultra conectada.
Pois na minha infância não havia ainda televisão na cidade.
Só fomos ter um aparelho de TV em casa na Copa do Mundo de 70, porque meu pai
sempre foi avesso a “modismos” e era sempre um dos últimos a aderir. Víamos
novela na vizinha e ele cedeu mais para não perder a companhia da minha mãe
todas as noites. O fogão a gás só entrou na cozinha sob muitos protestos,
inclusive da cozinheira e serviu de enfeite por um bom tempo. Ele demorava a
ceder e, quando cedia, comprava tudo à vista: televisão, piano, até automóvel,
porque detestava prestações.
Então, nosso programa de todos os domingos era ir à missa
das 10h, caminhar na Rua Ipiranga (que se chamava na verdade Gaspar Martins)
até o cinema Glória, ver os cartazes e decidir se iríamos à matinê das 13h, ou
das 16h, ou nos dois, ou, se fôssemos mais velhos (bem mais velhos) no cinema à
noite. Perto da minha casa tinha o Cine Continente, mas as pulgas tinham
predileção pelos filmes que passavam lá
e nem sempre era bem frequentado, portanto, o divertimento era no Glória
mesmo.
Na sessão das 13h o
tropel dos cavalos do mocinho era acompanhado pelo bater de pés da plateia, com
direito à torcida e aplausos, só arrefecidos com a luz na cara do lanterninha.
Às 16h aconteciam os primeiros encontros amorosos, quando a
menina “reservava” um lugar ao seu lado para o menino que sentava sorrateiro
ali, no apagar das luzes. Naquelas poltronas de madeira aconteciam as primeiras
grandes emoções da meninada, o tímido roçar na mão, depois o pegar na mão
titubeante e suado e, raramente, o primeiro beijo, geralmente reservado para as
sessões da noite.
Drops, Mentex, chicletes Adams ou Ping Pong, tudo bem
discreto, sem fazer ruído. Quando vejo a comilança nos cinemas de hoje, com
toneladas de pipoca e litros de refrigerante, lembro como éramos mais comedidos,
como íamos bonitinhos ao cinema e nos sentávamos comportados naquelas poltronas
duras, sem reclinar, e torcendo para uma pessoa alta não sentar na nossa
frente. Os mais altos nem podiam sentar direito, ficavam assim meio deitados,
atendendo aos pedidos de quem sentava atrás. Parece ruim? Mas era bom demais!
Mesmo ficando horas na fila para comprar ingresso, as crianças iam sozinhas, em
grupo, sem nenhum adulto junto, atravessando a praça, sem medo de assaltos ou
de carros em alta velocidade.
Como quase tudo “no meu tempo”, ali quase junto com os
dinossauros, a matinê do domingo era sagrada, as roupas domingueiras eram
caprichadas, o encontro com os amigos eram tudo de bom, e os primeiros
namoradinhos no escurinho do cinema foram inesquecíveis!
Há quem prefira passar o dia deitado no sofá, com a cara e a
roupa amarfanhada assistindo TV o domingo inteiro, ou mentindo nas redes
sociais.
Eu sempre vou lembrar com saudade das velhas tardes de
domingo, belos dias!
2 comentários:
Boa Tarde, querida Maria Luíza!
Fui à matinê quando criança... tivemos que sair dum filme a família toda que, pra época, meus pais não permitiam que víssemos... foi uma banho de água fria em minha experiência com matinês... rs...
Sim o jeito é nos atualizarmos a medida da nossa capacidade de compreensão... fazer esforço pra ter diálogo com netinhos e quiçá, biscnetos... eles não têm culpa de sermos de outra geração...
Força e fé!
Seja abençaoda e feliz!
Bjm muito fraterno
BONS TEMPOS
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