Passei muito frio na vida. Todas as meninas da minha geração
passaram, mais até do que as da geração da minha mãe e da minha avó. Arrisco a
dizer que as meninas dos anos sessenta foram as que tiveram as pernas mais
geladas em todo sul do Brasil.
Nos dias de hoje, convenções são para serem desrespeitadas e
cada família veste seus filhos como bem entender, sempre visando o conforto
deles. Mas não foi sempre assim. No século XX ainda as pessoas tinham normas a
seguir, inclusive no vestuário. E seguiam. Muito cedo as crianças e jovens
aprendiam o que podiam e não podiam vestir, quando e onde.
Minha avó usava saias compridas, no meio das canelas. Minha
mãe usou saias largas, bem abaixo dos joelhos. E eu sou bem do tempo da
minissaia, da saia um palmo acima do joelho... inclusive no inverno!
Na minha cidade não nevava, apenas porque a topografia não
permitia, no entanto, a geada branqueava a praça, os canteiros, os gramados,
tudo, até levantar no meio da manhã, quando ficava ainda mais frio.
As crianças iam a pé para a escola, atravessando a praça
central, uma rua e ainda uma avenida. Antes das oito da manhã a praça se vestia
de azul marinho e branco e crianças encolhidas de frio, cheias de roupa. Menos
as meninas. Essas usavam blusões, casacos, saia curta e meias até o joelho. Só.
A coxa ficava esbranquiçada de frio, chegava a descascar,
mas mulheres direitas não usavam calças compridas. Esse era um luxo dado apenas
aos meninos maiores, que já tinham deixado as calças curtas, e às prostitutas.
Era fácil reconhecê-las nas ruas pelos “slacks” de helanca aquecendo suas
pernas roliças.
Lembro até hoje do calor da minha primeira calça jeans! Para
usar apenas em casa. Eu já era adolescente e a calça era dura, desconfortável.
Nas festas, quando cresci um pouco, o alento vinha da meia
de nylon fininha, sempre com a costura torta e puxando fios com facilidade. Sem
contar o desconforto das cintas ligas, ou das ligas que não paravam no lugar.
Uma modernidade que atingiu minha geração foram os absorventes
higiênicos. Livres dos paninhos das nossas mães, usamos Modess de meio palmo de
espessura, afixados numa cinta com presilhas, colocada junto com a cinta liga e
que nos desencorajava até de fazer xixi, pelos tantos “arreios” que
precisávamos ajustar no banheiro.
4 comentários:
Tuas crônicas caem redondas para quem viveu esta época, e também para qiem é Alegretense , o trajeto se desenrola na memória.
Fico sempre feliz quando vocês se reconhecem nelas. Obrigada querida!
Muito boa crônica kkkk as vezes eu tbm queria ser prostituta, mas para fazer com gosto o que faço de graça kkkkmmmm
Muito boa crônica kkkk as vezes eu tbm queria ser prostituta, mas para fazer com gosto o que faço de graça kkkkmmmm
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