segunda-feira, 23 de maio de 2016

PERNAS PRA QUE TE QUERO!



                             Na minha infância eram raras as crianças obesas. Só mesmo por algum traço genético muito forte, ou uma mãe permissiva demais, adepta das guloseimas a toda hora.
                            A alimentação era saudável, natural, com refeições nas horas certas, sem produtos industrializados, nem gordura trans. Em muitas famílias até o pão era feito em casa, ou chegava cedinho de carroça, assim como o leite e as verduras. Sem falar que a maioria das casas tinha a sua horta e muitas frutas no pomar.
                           Poucas famílias possuíam automóveis e a meninada andava mais de bicicleta, ou sobre as suas pernas mesmo. Da minha casa até a escola tinha uma praça grande para atravessar, mais três quarteirões. E tínhamos que fazer esse trajeto, no mínimo duas vezes ao dia, pois as aulas de Educação Física eram no contraturno, assim como os ensaios da banda e do Orfeão e também as inumeráveis pesquisas na biblioteca, numa era pré-Google.
                           No Jardim de Infância meu transporte escolar se chamava Seu Macário, um negro velho paciente e bondoso, que levava e buscava as crianças pequenas no colégio, obviamente a pé.
                          No Primário, diversas vezes peguei carona na carroça do leiteiro (sem meus pais saberem, principalmente minha avó) e achava o máximo sentar naquele pelego macio e chegar sacolejando no colégio para os colegas verem. Vez por outra ganhava carona na garupa da bicicleta do meu irmão mais velho, quando ele ia para a Educação Física. O resto era a pé mesmo.
                          As aulas de Educação Física eram sempre em quadras descobertas, estivesse o frio que fosse. E o uniforme era camiseta branca, um calção azul marinho ridículo, tipo bombacha curta e congas brancas. No vestiário não havia armários e a água era sempre fria. A ginástica aquecia e moldava o corpo e o jogo era só no final da aula. Meninos e meninas separados e a aula deles era ainda mais puxada que a nossa. Terminada a aula, voltávamos a pé para casa, para tomar banho e nos arrumarmos para as cinco aulas da tarde. Isso quando não havia matéria para estudar e deveres para terminar, pois fazíamos à noite, caindo de sono, muitas vezes à luz de velas (faltava muita luz naquele tempo).
                          Além da rotina de estudos tinha o lazer, as brincadeiras no meio da rua, a correria, o pular muros e subir em árvores. Nossas pernas eram solicitadas o dia inteiro e longe mesmo, para nós que morávamos no Centro, era só o Aero Clube ou o cemitério, o resto era perto.
                          Pois é, naquele tempo nem televisão ainda pegava na cidade, não tínhamos internet, computadores e pouco telefones fixos. Celular nem pensar!
                          Que bom!




Um comentário:

Ana Luiza Carivali disse...

Que maravilha era assim mesmo, colégio , amigas visitar parentes tudo a pé.Brincadeiras de roda, pular corda esconder, até bolita jogava.Bambolê, educação física no colégio, êta saudades.