Na minha infância eram raras as crianças obesas. Só mesmo
por algum traço genético muito forte, ou uma mãe permissiva demais, adepta das
guloseimas a toda hora.
A alimentação era saudável, natural, com refeições nas horas
certas, sem produtos industrializados, nem gordura trans. Em muitas famílias
até o pão era feito em casa, ou chegava cedinho de carroça, assim como o leite
e as verduras. Sem falar que a maioria das casas tinha a sua horta e muitas
frutas no pomar.
Poucas famílias possuíam automóveis e a meninada andava mais
de bicicleta, ou sobre as suas pernas mesmo. Da minha casa até a escola tinha
uma praça grande para atravessar, mais três quarteirões. E tínhamos que fazer
esse trajeto, no mínimo duas vezes ao dia, pois as aulas de Educação Física
eram no contraturno, assim como os ensaios da banda e do Orfeão e também as
inumeráveis pesquisas na biblioteca, numa era pré-Google.
No Jardim de Infância meu transporte escolar se chamava Seu
Macário, um negro velho paciente e bondoso, que levava e buscava as crianças
pequenas no colégio, obviamente a pé.
No Primário, diversas vezes peguei carona na carroça do
leiteiro (sem meus pais saberem, principalmente minha avó) e achava o máximo
sentar naquele pelego macio e chegar sacolejando no colégio para os colegas
verem. Vez por outra ganhava carona na garupa da bicicleta do meu irmão mais
velho, quando ele ia para a Educação Física. O resto era a pé mesmo.
As aulas de Educação Física eram sempre em quadras
descobertas, estivesse o frio que fosse. E o uniforme era camiseta branca, um
calção azul marinho ridículo, tipo bombacha curta e congas brancas. No
vestiário não havia armários e a água era sempre fria. A ginástica aquecia e
moldava o corpo e o jogo era só no final da aula. Meninos e meninas separados e
a aula deles era ainda mais puxada que a nossa. Terminada a aula, voltávamos a
pé para casa, para tomar banho e nos arrumarmos para as cinco aulas da tarde.
Isso quando não havia matéria para estudar e deveres para terminar, pois fazíamos
à noite, caindo de sono, muitas vezes à luz de velas (faltava muita luz naquele
tempo).
Além da rotina de estudos tinha o lazer, as brincadeiras no
meio da rua, a correria, o pular muros e subir em árvores. Nossas pernas eram
solicitadas o dia inteiro e longe mesmo, para nós que morávamos no Centro, era
só o Aero Clube ou o cemitério, o resto era perto.
Pois é, naquele tempo nem televisão ainda pegava na cidade,
não tínhamos internet, computadores e pouco telefones fixos. Celular nem
pensar!
Que bom!
Um comentário:
Que maravilha era assim mesmo, colégio , amigas visitar parentes tudo a pé.Brincadeiras de roda, pular corda esconder, até bolita jogava.Bambolê, educação física no colégio, êta saudades.
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