terça-feira, 24 de novembro de 2015

SOBREVIVENTES



                           Neste nosso tempo, quem consegue, ao fim do dia, se recolher ao seu aconchego e deitar a cabeça no travesseiro em paz, pode se considerar um sobrevivente. Nunca pensei que um dia chegaria a concluir dessa maneira, pois vivi grande parte da minha vida numa época em que se pensava sempre à frente, fazendo planos, sonhando acordada e dormindo, com raros sobressaltos.
                          Hoje, tudo mudou.
                          Se moramos no Ocidente, se não estávamos nas Torres Gêmeas americanas, nem na casa de espetáculos francesa, tampouco nos charmosos bistrôs parisienses ou na famigerada boate Kiss de Santa Maria, já podemos nos dar por felizes.
                          Se não fomos assaltados, se não estávamos nos carros e ônibus acidentados, se nossos filhos não pilotavam as motos atropeladas, se nossos netos não sofreram bullying na escola, ou sequestros relâmpagos, nem foram vítimas de pedófilos, podemos respirar aliviados... e continuar rezando.
                         Mais do que nunca, há que se ter fé! Precisamos de alguém para invocar pedindo proteção, agradecendo por mais um dia, ouvindo nossos temores. Viver está sendo cada vez mais arriscado.
                        Além dos maus tratos que os governantes fazem com seu povo, com os contribuintes, vilipendiados para favorecer suas falcatruas e alimentar seus bolsos, ainda precisamos ver o estado de decadência galopante das escolas e hospitais, o crescimento vertiginoso da criminalidade, a carência de policiais, as cadeias superlotadas e a população refém da bandidagem.
                       Nem o clima colabora mais conosco, até tornados já começam a surgir por aqui, rios secando, cidades destruídas por um mar de lama, enchentes devastadoras, raios, trovões, granizo, ventos calamitosos, enfim, tempos bicudos esses.
                       Desemprego, subemprego, gangues de menores drogados, prostituídos, bandidos vitimando inocentes. Pais que ficam com o coração apertado cada vez que o filho sai para estudar ou trabalhar, sabendo que o mal está em cada esquina e fica à espreita, sem que seja possível protegê-lo o tempo todo, uma vez que nem os pais estão mais seguros, nem a polícia consegue conter os malfeitores, e, para completar, como se já não houvesse problemas de sobra para a humanidade, seitas de fanáticos resolvem bancar os justiceiros e dizimar gente inocente, pela única razão de que eles acreditam em outras coisas e vivem de outra forma.
                        Morro de pena do mundo em que meus netos vão viver! Queria poder melhorá-lo para eles, mas a realidade é que o planeta já foi destruído, os mares e rios contaminados e as relações humanas nunca foram tão ruins!
                       Quando criança, a gente só tinha medo do “velho do saco”, que levava crianças teimosas e que não queriam comer. O resto era liberdade e brincadeiras.
                       E hoje? Assustamos essas pobres crianças com tudo! Não podemos deixar uma menina de sete anos caminhar meia quadra até a padaria, com medo de que possam sequestrá-la, ou coisa pior. Tudo é perigoso, todos são bandidos em potencial e os pequenos vivem numa redoma onde o que resta é a escola (cheia de grades, catracas e seguranças) e os jogos eletrônicos, a TV, brinquedos caseiros. Até os shoppings já oferecem riscos inimagináveis e os pais não relaxam mais em lugar algum.
                       O que nos resta é a fé. É rezar, é invocar a proteção de todos os santos para nossas famílias, porque, do contrário, o desespero será ainda maior.
                       Ao fim de cada dia, certos de que está tudo em ordem e em paz com os seus, que já estão todos em segurança em suas casas, as pessoas respiram, suspiram e sobrevivem... por mais um dia!




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