domingo, 31 de maio de 2015

NEM TUDO SÃO ESPINHOS




                      Já cantei em verso e prosa as agruras e dissabores do envelhecimento, até porque eu os sinto dia após dia.
                      Hoje, no entanto, quero ser justa e nomear algumas melhorias que advém com o passar do tempo.
                      Sem sombra de dúvida, a maior vantagem de todas é o amadurecimento. Pena que algumas pessoas morram de velhas sem amadurecer, eternamente com reações adolescentes, com fixação na juventude (e por isso mesmo à beira do ridículo), reagindo a tudo com ímpeto infantil, fazendo birra, recusando-se a rever conceitos e a se adaptar. Chamem a isso de personalidade, eu prefiro o termo imaturidade.
                      Outra grande vantagem do passar do tempo é a de finalmente nos libertarmos da escravidão do relógio. Muitos até deixam de usar aquela corrente afivelada ao pulso que norteou nossos passos durante toda a vida produtiva. Que fique claro que continuamos produzindo, agora apenas para nós e para a nossa família, ao invés de obedecer às ordens e exigências de um patrão, ou do mercado.
                      É bem verdade que temos menos sono, entretanto, acordar pensando no que faremos naquele dia, sem susto, é bem diferente do som estridente do despertador, nos chamando aos gritos para mais um dia igual a todos os outros, para o qual estamos sempre atrasados, correndo, numa correria insana e despropositada.
                      Saborear a comida e os beijos e conversas dos netos, prestando realmente atenção no que se come e no que vemos e ouvimos, dando importância às pequenas queixas, esclarecendo dúvidas, acalmando as tempestades, fazendo cafuné, tudo o que mal tivemos tempo de fazer com nossos filhos, pela pressa constante em resolver mil coisas, muitas delas desnecessárias e menos importantes.
                      É useiro e vezeiro se dizer que o ideal seria um corpo jovem numa cabeça madura e essa realmente seria a fórmula da perfeição. A agilidade e a força dos vinte, trinta anos, na cabeça dos sessenta, setenta e estaríamos a dois passos do paraíso.
                     Tempo para se fazer o que gosta, ler, escrever, tricotar, tocar um instrumento, pintar, costurar, plantar, viajar, enfim, aquilo que sempre pretendemos fazer e nunca tivemos tempo suficiente, essa é outra grande conquista da maturidade.
                      Eu escrevo desde os quinze anos, publicando na Gazeta de Alegrete. Escrevo por uma necessidade vital, assim como comer e dormir. Tão logo me aposentei comecei a organizar e publicar meus livros. Em sete anos de aposentadoria tenho dez livros solo publicados, fora as incontáveis antologias que guardam textos meus.
                     Por tudo isso – e incontáveis pequenas e grandes coisas mais – não é de todo ruim envelhecer, tem seus encantos, desde que não travemos uma luta inglória contra o tempo e não passemos o tempo que nos resta a nos lamentar.
                     Tenho acompanhado o desabrochar de cada florzinha, cada pimenta no meu pequeno jardim e isso pode parecer quase nada, quando na verdade representa um tempo de olhos de ver, ouvidos de ouvir e boca de calar.
                     Aproveitemos!


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