quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

EM NOME DE QUEM?!




                 Não é simples, nem proveitoso, combinar o calor do momento com o ato de pensar sobre o acontecido. Outrossim, nem sempre a calma e frieza que o tempo agrega aos fatos geram uma verdade mais equilibrada. Muitas vezes, o que conseguem é mascarar os acontecimentos e amenizar o que não deveria ser amenizado.
                  O triste episódio do massacre dos chargistas do Charlie Hebdo, em Paris, já dói menos, o estupor foi amenizado pelos novos ventos e inúmeros problemas, mas a discussão não se esgotou. Há indícios de que, a se considerar prós, contras e meios, será uma discussão infinda e inconclusiva. Principalmente se o assunto no Ocidente (leia-se principalmente Brasil) for abordado como mais uma estéril pendência entre direita e esquerda.
                  Razões para o massacre? Nenhuma! Todos nós somos passíveis de crítica. De deboche, de charges, sem que, com isso, nos proclamemos no direito de sair matando os críticos ou desafetos.
                 Se os muçulmanos no Ocidente são uma minoria explorada e mal tolerada, os africanos negros são tudo isso, ainda mais, mas não detonam bombas, nem matam.
                  Os fundamentalistas autênticos, como os budistas tibetanos ou os amish, por exemplo, são pacifistas, reflexivos, completamente indiferentes ao hedonismo ocidental. O máximo que se permitem é sentir pena destes que, segundo suas crenças, estão fadados ao fracasso e à infelicidade.
                   Há que se pensar no quanto deve ser frágil a crença desses muçulmanos fanáticos para que se sintam tão ameaçados por uma caricatura estúpida publicada num semanário satírico.
                   Pessoalmente, não aprecio charges desrespeitosas, obscenas, maldosas. Não vejo a menor graça nelas, por isso as ignoro.
                   O que defendo, como este pronunciamento famoso que atribuem a Voltaire, mas deve ter sido escrito por um de seus discípulos, é que: “Não concordo com o que você diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-lo.” Assim, mesmo não apreciando as referidas e polêmicas charges, mesmo não sendo Charlie, continuo indignada com a barbárie e cada vez mais assustada com a marcha sanguinária desses que vilipendiam seus semelhantes em nome de quem só pregou o Bem, a Paz, a Fraternidade.
                    Para encerrar este texto, que precisou de muitos dias e noites para aplacar sua veemência e neutralizar suas emoções, faço uso das palavras de Scott Long, num texto forte e elucidativo publicado na blogosfera e na Folha de São Paulo:
                   “Eu defendo a liberdade de expressão. Sou contra toda censura. Repudio os assassinatos. Não sou “Charlie”.”








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