sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

QUE PAÍS É ESSE?




                    Eu devia ter uns 15 anos quando coloquei este título pela primeira vez numa crônica publicada na Gazeta de Alegrete.
                    De lá pra cá, com tanta água passando sob essa ponte, perdi muito da capacidade de me indignar. Isso é bom e ruim. Por um lado sofro e me incomodo menos; por outro, corro o risco de me acomodar e ser conivente com a barbárie.
                    Suportei muita coisa sem me pronunciar, sem tocar em assuntos polêmicos, temendo ferir sensibilidades e perder leitores, mas agora vou falar. Ou melhor, escrever, que é a minha forma de falar.
                    Que país é esse onde tudo se polariza, todos são contra ou a favor, cada um puxa para um lado e joga a sujeira do outro no ventilador?
                    Que país é esse onde quem toma as decisões só aprova benesses para o povo se quem as propõe for do seu partido; só aceita se receber cargos em troca; só concorda se o outro lado ceder à barganha?
                    Que país é esse em que para conseguir aumento de salário as pessoas quebram tudo, destroem o patrimônio público e privado, onerando ainda mais os cofres de onde teria que sair seu aumento?
                      Que povo é esse que invade terras na beira das estradas, ao invés de procurar um lugarzinho retirado para plantar e colher?
                      Que leis são essas que permitem bandidos à solta, que condenam a ação da polícia e protegem marginais?
                      Porque, ao invés de estádios, não se construíram escolas de tempo integral, colônias penais, reeducação efetiva para menores infratores?
                      Que país é esse onde o povo esclarecido, informado, conhecedor da realidade não decide, nem escolhe e quem escolhe está de costas para a realidade do país e nem quer saber de nada?
                      Que país é esse onde os ricos continuam ricos, os pobres têm vários paliativos e a classe média sustenta uns e outros com seu trabalho e sacrifício?
                     Um país que autoriza e libera verbas astronômicas para a “simplificação” dos livros de Machado de Assis e José de Alencar, não pode ser um país sério!
                    Um país onde o povo tirou a blusa, depois pintou a cara, a seguir usou máscaras e não conseguiu impedir nada, é um país que está surdo aos clamores da sua gente.
                   Depois de passar por tanta vergonha na Copa do Mundo, ficamos sabendo que      jogadores, ainda ontem muito pobres, hoje exigem banheiras jacuzis, frutas importadas, aparelhos eletrônicos, comidas especiais, enfim, quase um SPA, num país com tantos problemas. E fecham casa noturnas em Santa Catarina, com direito a banho de champanhe francês e a moçoilas escolhidas a dedo, unicamente por seus atributos físicos, para passar a noite com eles.
                  Se somos macacos, como volta e meia os vizinhos (e agora até os europeus) nos chamam, então, só nos resta bater palmas, truque que os símios aprendem facilmente. 
                  E acreditar que os políticos empossados serão honestos, trabalharão para o povo, garantirão os direitos de quem trabalha e eliminarão os cabides de emprego, por onde o dinheiro dos impostos vira propina e superfatura tudo.
                 Sonhar que apenas o trabalho consiga enriquecer o homem e parar de se indignar com tantas benesse atribuídas e distribuídas a quem ludibriou e mentiu para o povo, a quem se inflamou em discursos mentirosos e depois foi de jatinho descansar em sua fazenda faraônica, vilipendiando todas as regras de um jogo, onde apenas o esforço própio deveria ser garantia de um lugar ao sol.
                  Que país é esse em que apenas meia dúzia de fanáticos e gente comprada foi prestigiar uma escolha aleatória e, em muitos casos, ignorante.
                  Esse país e o nosso Brasil. Saqueado, envergonhado, tripudiado, parado, assustado e rico apenas em esperança e promessas! 







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