Caminhando
cedinho à beira-mar, deduzi que as ondas estavam boas para a prática do surfe.
Meu pouco conhecimento se deve ao fato de meus filhos serem também excelentes
surfistas.
Meus
gurizinhos, alegretenses e gaúchos, vieram pequenos para a Ilha da Magia e logo
se apaixonaram pelo mar. Quando o mais velho ganhou do padrinho a primeira
prancha, aos quinze anos, o surfe entrou de vez na família e, de lá pra cá,
nunca mais os quartos deixaram de ter lindas pranchas penduradas na parede.
Quis
muito ter uma casa de praia na adolescência deles, para que eles pudessem aproveitar
bastante as ondas sem que eu tivesse que dar plantão na areia os dias inteiros.
Infelizmente, as prioridades eram outras e não deu.
A
paixão pelo surfe causou muitas discussões na nossa família, pois não é fácil
enfrentar o vento sul no inverno esperando o filho se saturar de mar. Dei
muitos plantões em praias desertas, com um frio de rachar, enquanto o
primogênito não tinha habilitação para dirigir. Lembro do olhar dele, dos
lábios brancos de hipoglós, das mãos e pés gelados, da fome de leão e do
cuidado extremo com aquele pedaço de fibra que o levava para a crista da onda.
Com
o exemplo do maior, foi fácil os outros dois seguirem seus passos, aprenderem a
técnica e se tomarem de amores igualmente pelo surfe. Exímios nadadores, cheios
de medalhas, meu receio ficou menor, embora o mar deva ser sempre respeitado.
Pois
agora, quando eles se tornaram homens e dois deles já pais de família,
conseguimos ter nossa casinha de praia e o hobby box está repleto de pranchas,
já que eles ainda pegam muita onda.
Aliás,
o menor mora longe de nós e do mar, só surfa de vez em quando. O do meio não
perde oportunidade de encarar as ondas, sem ligar pra conforto, opiniões, nada.
Se tem onda, ele está lá. E o mais velho, o precursor do surfe na família,
aquele que tinha verdadeira fissura pelas ondas, hoje, infelizmente, prefere
andar de moto, nesse trânsito caótico e desrespeitoso, arriscando-se muito
mais. Talvez por isso seja tão raro encontrar em seu rosto aquele olhar e aquele
sorriso que o acompanhavam na volta para casa, prancha debaixo do braço, pés
descalços, apetite voraz.
Termino
a caminhada com o pensamento longe, com três lindos sorrisos brancos na pele
bronzeada, chegando famintos, enxugando suas pranchas com um carinho único e
dizendo um ao outro:
- Altas ondas brother!
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