sábado, 11 de janeiro de 2014

UMA HISTORINHA DE VERÃO



Caminhando cedinho à beira-mar, deduzi que as ondas estavam boas para a prática do surfe. Meu pouco conhecimento se deve ao fato de meus filhos serem também excelentes surfistas.

Meus gurizinhos, alegretenses e gaúchos, vieram pequenos para a Ilha da Magia e logo se apaixonaram pelo mar. Quando o mais velho ganhou do padrinho a primeira prancha, aos quinze anos, o surfe entrou de vez na família e, de lá pra cá, nunca mais os quartos deixaram de ter lindas pranchas penduradas na parede.

Quis muito ter uma casa de praia na adolescência deles, para que eles pudessem aproveitar bastante as ondas sem que eu tivesse que dar plantão na areia os dias inteiros. Infelizmente, as prioridades eram outras e não deu.

A paixão pelo surfe causou muitas discussões na nossa família, pois não é fácil enfrentar o vento sul no inverno esperando o filho se saturar de mar. Dei muitos plantões em praias desertas, com um frio de rachar, enquanto o primogênito não tinha habilitação para dirigir. Lembro do olhar dele, dos lábios brancos de hipoglós, das mãos e pés gelados, da fome de leão e do cuidado extremo com aquele pedaço de fibra que o levava para a crista da onda.

Com o exemplo do maior, foi fácil os outros dois seguirem seus passos, aprenderem a técnica e se tomarem de amores igualmente pelo surfe. Exímios nadadores, cheios de medalhas, meu receio ficou menor, embora o mar deva ser sempre respeitado.

Pois agora, quando eles se tornaram homens e dois deles já pais de família, conseguimos ter nossa casinha de praia e o hobby box está repleto de pranchas, já que eles ainda pegam muita onda.

Aliás, o menor mora longe de nós e do mar, só surfa de vez em quando. O do meio não perde oportunidade de encarar as ondas, sem ligar pra conforto, opiniões, nada. Se tem onda, ele está lá. E o mais velho, o precursor do surfe na família, aquele que tinha verdadeira fissura pelas ondas, hoje, infelizmente, prefere andar de moto, nesse trânsito caótico e desrespeitoso, arriscando-se muito mais. Talvez por isso seja tão raro encontrar em seu rosto aquele olhar e aquele sorriso que o acompanhavam na volta para casa, prancha debaixo do braço, pés descalços, apetite voraz.

Termino a caminhada com o pensamento longe, com três lindos sorrisos brancos na pele bronzeada, chegando famintos, enxugando suas pranchas com um carinho único e dizendo um ao outro:

- Altas ondas brother!
 
 

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