sábado, 2 de novembro de 2013

DIA DE TODOS



             Sei que muitos vão torcer a cara e achar "macabro" este texto. Para estes, se não tocarmos no assunto, se ignorarmos a questão ela deixa de existir. No entanto, hoje, dia 2 de novembro, é o nosso dia, dia de todos, mais democrático impossível, porque sem exceção.
            Dia de Finados será também o dia do velhinho, do homem, da mulher, do jovem, da criança, do bebê. De todos.
            Eu nasci dia 9 de novembro, minha mãe diz que temia que eu me antecipasse e nascesse no dia 2. Só não digo que iria economizar uma festa porque não costumamos comemorar este dia, uma vez que o homenageado nunca pode estar presente. Pensando bem, somos todos um pouco de Escorpião.
           Vamos morrer. Nascemos predestinados à morte e vivemos, muitas vezes, como se fôssemos estar aqui para sempre.
          A certeza da morte conduz grande parte da humanidade à religião, porque, sem ela, tudo fica completamente sem sentido e acabamos por não saber o que viemos fazer neste mundo.
          Hoje é dia de lágrimas, de lembranças, de saudade, de orações. Quem de nós já não perdeu alguém a quem amava muito?
          Triste foi a vida daqueles que viveram jogados por aí, morreram sozinhos e nunca receberam sequer uma flor em seu leito final.
          Não quero entristecê-los. Minha tentativa é sempre a de encarar com mais naturalidade a única certeza que temos na vida, a de que um dia iremos morrer.
          Será que é tão ruim assim? Ou será que é pior para os que ficam?
          De qualquer forma devíamos ter presente, num cantinho da mente, para onde caminhamos, de maneira a não deixar de curtir a vida, as pessoas que amamos, a natureza e nos organizarmos, inclusive, para que, ao partirmos, deixemos mais saudades e boas lembranças do que problemas e trapalhadas.
           Hoje estou mais uma vez questionando a finitude da existência. No meu prédio há uma moça, a mais desafinada que conheço, que berra o dia inteiro aquelas músicas hor-ro-ro-sas, enlouquecendo a gente, porque o rádio toca num tom e ela grita noutro. Não desejo sua morte, é claro (um emudecimento temporário até que não faria mal). O que não consigo entender é como se calou uma voz como a  de Luciano Pavarotti?! Que falta fará aos ouvidos do mundo! Será que cantará noutra dimensão? Para uns poucos eleitos, esses que deixam um vazio no mundo quando partem, deveria haver vida eterna. Ou não?
          Eu pretendo ser eterna. Nos livros e nos traços físicos e de personalidade dos meus descendentes. 
            Ah, e não esqueçam de que adoro cravos, bem perfumados!




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