Sei que muitos vão torcer a cara e achar "macabro" este texto. Para
estes, se não tocarmos no assunto, se ignorarmos a questão ela deixa de
existir. No entanto, hoje, dia 2
de novembro, é o nosso dia, dia de todos, mais democrático
impossível, porque sem exceção.
Dia de Finados será
também o dia do velhinho, do homem, da mulher, do jovem, da criança, do bebê.
De todos.
Eu
nasci dia 9 de novembro, minha mãe diz que temia que eu me antecipasse e
nascesse no dia 2. Só não digo que iria economizar uma festa porque não
costumamos comemorar este dia, uma vez que o homenageado nunca pode estar
presente. Pensando bem, somos todos um pouco de Escorpião.
Vamos
morrer. Nascemos predestinados à morte e vivemos, muitas vezes, como se
fôssemos estar aqui para sempre.
A
certeza da morte conduz grande parte da humanidade à religião, porque, sem
ela, tudo fica completamente sem sentido e acabamos por não saber o que viemos
fazer neste mundo.
Hoje
é dia de lágrimas, de lembranças, de saudade, de orações. Quem de nós já não
perdeu alguém a quem amava muito?
Triste foi
a vida daqueles que viveram jogados por aí, morreram sozinhos e nunca receberam
sequer uma flor em seu leito final.
Não
quero entristecê-los. Minha tentativa é sempre a de encarar com mais
naturalidade a única certeza que temos na vida, a de que um dia iremos morrer.
Será
que é tão ruim assim? Ou será que é pior para os que ficam?
De
qualquer forma devíamos ter presente, num cantinho da mente, para onde
caminhamos, de maneira a não deixar de curtir a vida, as pessoas que amamos, a
natureza e nos organizarmos, inclusive, para que, ao partirmos, deixemos mais
saudades e boas lembranças do que problemas e trapalhadas.
Hoje estou mais uma vez questionando a
finitude da existência. No meu prédio há uma moça, a mais desafinada que
conheço, que berra o dia inteiro aquelas músicas hor-ro-ro-sas, enlouquecendo a
gente, porque o rádio toca num tom e ela grita noutro. Não desejo sua morte, é
claro (um emudecimento temporário até que não faria mal). O que não consigo
entender é como se calou uma voz como a de Luciano Pavarotti?! Que falta
fará aos ouvidos do mundo! Será que cantará noutra dimensão? Para uns poucos
eleitos, esses que deixam um vazio no mundo quando partem, deveria haver vida
eterna. Ou não?
Eu
pretendo ser eterna. Nos livros e nos traços físicos e de personalidade dos
meus descendentes.
Ah,
e não esqueçam de que adoro cravos, bem perfumados!
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