CÃES VIRALATAS

Domingo de manhã, dia de passear e não de voltar à frente desta máquina. Ainda mais com a meteorologia anunciando uma semana de chuvas a partir de hoje à tarde. Foi o que pensei quando coloquei a guia na Pitty e saí com ela para passear pelo bairro, hoje tranquilo, quase sem movimento de carros. Nosso passeio durou muito pouco, porque uma matilha de cães vira-latas, grandes, arruaceiros nos fizeram bater em retirada. Pitty é uma schnauzer cinza clarinho, um pouco acima do peso (é mal da casa), tranquila, amorosa e obediente. Só não é muito chegada em crianças, nem em vira-latas. Olhou-os com desdém e deu meia volta, ignorando o assédio inconveniente dos grandões, que ficaram irados com o desprezo e, não fosse eu a enxotá-los, teriam avançado nela.

Já em casa, pus-me a refletir. Com os cachorros, mal comparando, acontece algo parecido ao que sucede a nós, humanos, no mundo de hoje. Os mais pacíficos e educados andam presos em casas com grades, carros blindados, seguranças, enquanto os marginais vivem soltos, à vontade, provocando tudo e todos, na maior liberdade. Assim aconteceu com a Pitty, presa à guia e tão dócil, tendo que voltar a se encerrar no apartamento, enquanto os cães vadios continuam donos das ruas, ameaçando pessoas e cãezinhos menores.

Já que o tema hoje é a Pitty, vou contar que ela está revoltada com essa exigência de pedigree, raça pura, etc. Apaixonou-se por um lhasa apso do vizinho, chamado Wolf e cismou que é com ele que deseja casar. Minha mãe (aquela senhora especial de 93 anos, fã de Nelson Rodrigues) adora a Pitty e já declarou que a levará para visitar o amado no próximo cio, pois hoje em dia não se concebe que os pais escolham marido para as filhas. Quando questionada sobre a raça que sairia deste cruzamento estapafúrdio, ela dá de ombros e diz: - É só inventar um nome em francês e dizer que é uma raça nova que surgiu na França. Logo vira moda e todo mundo vai querer ter um filhote igual. Coisas da dona Conceição...

Agora vou ver se salvo o que resta do domingo, ainda revoltada pelo exercício que não fiz e pelo motivo torpe que me impediu de fazê-lo. Isso que dá ter filha bonita...