“Quero
chorar, não tenho lágrimas
Que me rolem na face
Pra me socorrer
Que me rolem na face
Pra me socorrer
Se
eu chorasse talvez desabafasse
O que sinto no peito
E não posso dizer...”
O que sinto no peito
E não posso dizer...”
Mais
um ônus do passar do tempo é a fragilidade emocional que sentimos. Mesmo aqueles
e aquelas que foram considerados rocha, pedra bruta ao longo da existência, de
repente se vêem fragilizados, à mercê das intempéries da vida, quase sem
controle sobre suas emoções e sentimentos.
Fatos
e palavras que, ao tempo da correria insana atrás do pão de cada dia, pouco
representariam para eles, agora assumem proporções catastróficas, magoam,
judiam, entristecem.
Os
da “melhor idade” sofrem com o abandono, com as omissões, com os
desentendimentos, com as críticas, com as frases ditas ao léu, com os
silêncios, com os medos sempre crescentes, com o peso da solidão.
Se
se emocionam, parece que o peito vai arrebentar, a boca seca, o coração acelera,
as pernas amolecem e as mãos tremem.
Quando
injustiçados, ou esquecidos, deixam-se envolver pela tristeza, perdem o resto
do brilho do olhar e profundos suspiros afloram do peito machucado.
Depois
de trabalhar tanto, quando se aposentam, sobra-lhes tempo para pesar, medir,
esperar, se decepcionar. A decepção, diga-se de passagem, é quase uma constante
nessa fase da vida. Castelos são desfeitos, ilusões acabam e a realidade parece
sempre mais áspera e dura do que supunham.
Muitos
conseguem se ocupar, se envolver com coisas e pessoas, não pensar. Outros,
todavia, costumam confidenciar ao travesseiro seus sentimentos e a maioria
deles é triste, resignado, povoando o pouco sono de pensamentos sombrios e pouca
motivação para enfrentar o novo dia. Como se não bastassem as limitações
físicas, a decrepitude inexorável, até seus amores mais do que perfeitos
principiam a murchar.
A
fé costuma ser uma grande aliada, os livros também e a arte de forma geral
ajuda bastante. Qualquer coisinha completa um coração raso, de poucas emoções e
quase nenhuma reflexão. Já para aqueles hipertrofiados de sentimentos e razões,
é preciso bem mais.
Triste
é chegar ao ponto em que até as lembranças dóem, a saudade machuca e se vive na
superfície, uma vez que não se deseja partilhar tristezas. O risco iminente é
de que, um dia, por qualquer desamor ou ingratidão, esse rio mal contido possa transbordar.
“Deixe em paz meu
coração
Que ele é um pote até
aqui de mágoa
E qualquer desatenção,
faça não,
Pode ser a gota d’água.”
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