segunda-feira, 5 de novembro de 2012

CHUTANDO O BALDE




Até aquele momento da vida tivera uma vaidade mediana, dessas que não chegam a escravizar, mas que não dispensam um ok do espelho.
Em parte porque sempre obtivera boas respostas do corpo, da pele, dos cabelos aos tratamentos e cuidados triviais dispensados por uma mulher ocupada e produtiva.
Se a genética não ajudava, sua determinação e a agitação da vida profissional e familiar auxiliavam qualquer regime de emagrecimento a dar resultados imediatos e satisfatórios. Bem, o cigarrinho contribuía bastante, verdade seja dita.
Nem contos de fadas são legais até o fim e, nesse caso, não foi diferente. Com a chegada da “pior idade” sua auto-estima iniciou a desandar, em virtude dos inúmeros problemas surgidos. Por um calendário maquiavélico, sua determinação em parar de fumar coincidiu com a aposentadoria e a chegada da menopausa. O resultado foi presumivelmente desastroso – vinte quilos de algo que não lhe pertencia aderiram ao seu corpo outrora tão curvilíneo e elogiado.
No início, portanto, da tal cantada idade de descansar, celebrar a vida e outras balelas o que sobrou foram dores musculares, problemas de visão, obesidade, queda de cabelo, taxas alteradas nos exames de rotina, além das marcas do tempo desenhando o rosto.
Ela tentou.
Espartanamente, seguiu à risca as orientações médicas e profissionais, entupiu-se de vitaminas e remédios, no entanto, parecia que era a única entre suas contemporâneas a passar por aquilo e a desandar diante dos espelhos cruéis espalhados pela casa.
Ao invés dos admiradores e das invejosas de outrora, hoje percebia olhares piedoso, disfarçados, surpresos. Ela já não suportava mais a situação limite em que vivia e começou a se fechar dentro de casa e dentro dela mesma, evitando os comentários, a maledicência, a piedade mal disfarçada no semblante dos mais próximos e também dos desconhecidos.
Fugia do sol, do mar que tanto amava, das festas, dos encontros e entristecia na mesma proporção que seu corpo deteriorava.
A frustração chegou ao limite num encontro de ex-colegas do curso Ginasial. Todos mais jovens, mais elegantes, mais cabeludos, mais conservados. A não ser os que já tinham morrido.
Nesse dia, no auge do desgosto, ela chegou em casa, cortou os cabelos rentes à cabeça, uma vez que tinham sido volumosos, bonitos, indomáveis e agora teimavam em rarear e não paravam de cair, vendeu o carro, colocou algumas roupas numa mala, juntou as economias e comprou uma passagem – só de ida! – para um país distante e tropical. E foi embora, assim, como quem sai de cena.
No outro lugar bronzeou o corpo avantajado em biquínis minúsculos, escolhidos apenas pela cor e o modelo, como antes, manteve o cabelo curtinho sempre ao natural, meio branco, meio falhado, mas livre e macio, abandonou os remédios e vitaminas inundando-se de sol e água salgada, namorou um morenão que a achara linda e colocou sua vida sexual em dia.
Finalmente voltou a sorrir e a ser feliz!






Um comentário:

Ivana Lucena disse...

rsrsrs Menina, que invejinha dessa corajosa. Já estou separando os meus biquines e juntando um dinheirinho para a minha passagem de ida. Tomara que eu tenha a mesma sorte que ela no final. Mas, se não tentar, como saber, não é mesmo? rsrsrs Beijos.