A duras penas,
vamos recompondo nossa estabilidade emocional, puxando daqui, colando dali,
apagando acolá. De tanto tentar e tanto desgostar de sofrer, conseguimos um
mínimo de equilíbrio que nos permita afastar os lábios para falar ou sorrir e
admirar o exterior, além de nossas mágoas.
Já não nos
crispamos ao toque, nem apertamos o maxilar, o relaxamento anuncia sua vinda.
Os olhos mantêm
uma sombra ressentida que só o sopro do tempo costuma retirar.
No difícil
encontro, ou reencontro com dores antigas ganhou a cultura e a avidez com que
notícias técnicas e nada pessoais eram devoradas.
Ganharam o
fogão e a geladeira , que se encheram de guloseimas, temperadas com a energia
de quem quer ocupar mãos e cabeça.
Difícil
explicar o que houve, se nada houve de tão grande ou grave, apenas uma gotinha
a mais num copo tão cheio. E notícias de saudades e distâncias.
Ela voltou,
saltitante, cheia de histórias, malcriadinha como todo ser que volta da escola,
parecendo maior, menos bebê, mais mocinha.
Ele chegou,
suado como sempre andam os meninos endiabrados, com o sorrisão colado ao rosto
de lindos traços, abraço de urso, fome de leão, amores.
Elas espalharam brinquedos, rabiscaram meu livro, recortaram meu jornal, melaram dedos e bochechas, colaram a boca de balas na minha bochecha e os dedos pintados nos meus cabelos, naqueles abraços apertados de braços pequenininhos.
Elas espalharam brinquedos, rabiscaram meu livro, recortaram meu jornal, melaram dedos e bochechas, colaram a boca de balas na minha bochecha e os dedos pintados nos meus cabelos, naqueles abraços apertados de braços pequenininhos.
Aos poucos,
foram pegando os pedacinhos de avó soltos pelo chão e montando um quebra cabeça
apressado, com as partes mal encaixadas, mas num resultado final reconhecível.
E me puseram em
pé, outra vez com braços de aninhar e boca de encher de beijos, outra vez com olhos
de se maravilhar e sem tempo de pensar em nada.
Essa a função
dos netos: ressuscitar os avós!
Um comentário:
*-* Dizer que seu texto é lindo, seria um clichê, mas, admira-me como você consegue expor a poesia de ser avó. Confesso, antecipou a minha vontade de também ser. rsrsrs E aquele comecinho do texto, sei bem do que falas, amiga. Passei uma experiencia da qual ainda me recupero lentamente. Um abraço, minha querida. E um beijinho gostoso na bochecha de cada um desses fofuxos.
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