Claro que você já andou de avião. Hoje só não anda quem não quer. E, lá de
cima, viu o quê? A roupa linda de alguém, as jóias, os penteados, os defeitos
físicos, a beleza de quem quer que seja? Ou apenas uns pontinhos indecifráveis
nas estradas, que deviam ser automóveis, não importa o ano, nem a marca deles?
Pois é, aquelas formiguinhas anônimas refletem bem nossa importância no
Universo. E como fazemos tempestade em copos de água, por qualquer besteira!
Aqui, bem ao lado da minha janela havia uma linda casa antiga, com quintal,
pomar e até galinheiro. Os pássaros nos acordavam em revoada pela manhã.
Depois, os filhos da velhinha venderam a casa e a colocaram abaixo. O sol
inundou ainda mais nosso apartamento, pois ficou ao lado apenas um vasto
terreno cheio de terra onde os pássaros faziam a festa diuturnamente. Tempos
agradáveis aqueles! Dava gosto olhar pelas janelas no amanhecer e no
entardecer.
Depois
vieram as máquinas, os homens maus, a serra elétrica e hoje, por exemplo, temos
três caminhões de concreto estacionados diante de nossas janelas, num barulho e
numa poluição infernais, para que outro formigueiro seja construído, aonde mais
formigas irão se amontoar e resolver seus probleminhas de formiga, achando que
são os maiores da terra.
Assim
como nós, formiguinhas virtuais, que estamos aqui, de pijama ou bem aprumados,
perfumados ou pedindo um bom banho, escondidos ou loucos pra deixar um
bilhetinho, concordando ou achando tudo uma grande bobagem, refletindo sobre o
que foi dito, ou simplesmente ignorando, enfim, continuamos as mesmas formigas
inexpressivas da construção ao lado, apenas diante de um computador.
Para quem deixamos de ser um grão de areia ou uma minúscula formiga? Para quem
nos ama, para nossa família, para quem depende de nós, para quem pensa como
nós. E só. Para os demais, se não estivermos mascarados ou com alguma coisa
muito estapafúrdia, seremos sempre apenas mais um na multidão anônima da vida.
Os filhos, os livros e as obras são nossa única esperança de algum sentido
nesta passagem pela vida. Sem eles, seremos exatamente iguais ao lindo jardim
que havia aqui ao lado e que agora se transformou numa montoeira de ferro
e concreto, onde formigas irão trazer suas caixinhas de tesouro e espalhar
pelos quadradinhos achando que conseguiram seu lugar ao sol. Elas nunca viram o
jardim, portanto, jamais sentirão falta dele. Tirarão fotos, mandarão às outras
formigas, trabalharão muito para pagar seus pedacinhos na grande muralha e
dormirão convictas de que o mundo só gira ao redor do seu umbigo.
Quem sabe essas formigas não serão muito mais felizes que as outras, aquelas
que têm consciência de sua própria insignificância? Não sei. Pode até ser. Só
que nem por isso elas, que se julgam tão importantes, terão importância real.
Só pensarão que têm. Se consola...
Claro que você já andou de avião. Hoje só não anda quem não quer. E, lá de
cima, viu o quê? A roupa linda de alguém, as jóias, os penteados, os defeitos
físicos, a beleza de quem quer que seja? Ou apenas uns pontinhos indecifráveis
nas estradas, que deviam ser automóveis, não importa o ano, nem a marca deles?
Pois é, aquelas formiguinhas anônimas refletem bem nossa importância no
Universo. E como fazemos tempestade em copos de água, por qualquer besteira!
Aqui, bem ao lado da minha janela havia uma linda casa antiga, com quintal,
pomar e até galinheiro. Os pássaros nos acordavam em revoada pela manhã.
Depois, os filhos da velhinha venderam a casa e a colocaram abaixo. O sol
inundou ainda mais nosso apartamento, pois ficou ao lado apenas um vasto
terreno cheio de terra onde os pássaros faziam a festa diuturnamente. Tempos
agradáveis aqueles! Dava gosto olhar pelas janelas no amanhecer e no
entardecer.
Depois
vieram as máquinas, os homens maus, a serra elétrica e hoje, por exemplo, temos
três caminhões de concreto estacionados diante de nossas janelas, num barulho e
numa poluição infernais, para que outro formigueiro seja construído, aonde mais
formigas irão se amontoar e resolver seus probleminhas de formiga, achando que
são os maiores da terra.
Assim
como nós, formiguinhas virtuais, que estamos aqui, de pijama ou bem aprumados,
perfumados ou pedindo um bom banho, escondidos ou loucos pra deixar um
bilhetinho, concordando ou achando tudo uma grande bobagem, refletindo sobre o
que foi dito, ou simplesmente ignorando, enfim, continuamos as mesmas formigas
inexpressivas da construção ao lado, apenas diante de um computador.
Para quem deixamos de ser um grão de areia ou uma minúscula formiga? Para quem
nos ama, para nossa família, para quem depende de nós, para quem pensa como
nós. E só. Para os demais, se não estivermos mascarados ou com alguma coisa
muito estapafúrdia, seremos sempre apenas mais um na multidão anônima da vida.
Os filhos, os livros e as obras são nossa única esperança de algum sentido
nesta passagem pela vida. Sem eles, seremos exatamente iguais ao lindo jardim
que havia aqui ao lado e que agora se transformou numa montoeira de ferro
e concreto, onde formigas irão trazer suas caixinhas de tesouro e espalhar
pelos quadradinhos achando que conseguiram seu lugar ao sol. Elas nunca viram o
jardim, portanto, jamais sentirão falta dele. Tirarão fotos, mandarão às outras
formigas, trabalharão muito para pagar seus pedacinhos na grande muralha e
dormirão convictas de que o mundo só gira ao redor do seu umbigo.
Quem sabe essas formigas não serão muito mais felizes que as outras, aquelas
que têm consciência de sua própria insignificância? Não sei. Pode até ser. Só
que nem por isso elas, que se julgam tão importantes, terão importância real.
Só pensarão que têm. Se consola...
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