quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A FORÇA DA PASSARINHADA

           Bem feito!   Sabiás e bem-te-vis se sobrepuseram à britadeira e conseguiram me despertar... como faziam em todas as primaveras.
          Ainda não há cimento suficiente na execrável obra vizinha e a terra revolta das fundações lhes oferece um banquete.
           Dias virão em que meus amiguinhos terão que procurar alimento em outro terreno baldio, ou nas raras casas que sobrarão aqui no bairro, sufocadas pelos espigões.
           Por enquanto, com as manhãs desabrochando mais cedo, eles fazem sua festa nos buracos da obra antes mesmo dos peões chegarem. E é aquela cantoria!
           Nos finais de semana, então, dá gosto ouvir!
          Nunca tive grandes ambições financeiras. Agora, no entanto, se tivesse bastante dinheiro, compraria o terrreno ao lado, embargaria a obra e faria um lindo parque, cheio de árvores, flores e plantas para a passarinhada se fartar e nos encantar com sua cantoria. Debaixo de uma figueira colocaria um balanço para a Bruna e , ao lado, uma graminha caprichada para o Lucas jogar futebol. De quebra, a Pitty correria o terreno todo e deixaria de ser uma schnauzer gorducha. Ah, e minha mãe leria o Correio do Povo sentada num banco de madeira, na sombrinha.
            Parece um sonho tão simples, nele nem tem iates, palácios, helicópteros, mesmo assim é tão difícil de realizar.
           Quando penso que teria tudo isso na nossa casa de Alegrete lamento os mais de mil quilômetros que me separariam dos filhos e netos. Será que não dá pra trazer Alegrete mais para cá também?
           Para quem vive dizendo que já não tem tantos sonhos assim, às oito horas da manhã já divaguei demais.
           Tudo culpa desta obra.
           Mas hoje a passarada venceu! Pequeninos, esmirradinhos, desarmados e tão fortes quando em bando, com gargantas preciosas e sons maviosos, suplantando os ruídos insípidos e irritantes das máquinas construídas pelo homem.
            Viva a natureza!

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