sábado, 18 de junho de 2022

MINHA MÃE, MINHA AMIGA, MINHA COMPANHEIRA

 

17 de Junho de 1919. Há 103 anos, nascia em Alegrete a filha dileta de Eduardo Vargas. A primogênita que nunca superou a morte prematura do pai, aos 64 anos, e teve nele sempre o melhor amigo, o protetor, o ídolo.

Dona Odith, a mãe, não conseguiu que ela trocasse os livros e as bonecas de pano pela modista ou pela culinária. Eram muito diferentes de temperamento, embora, na velhice, acabassem se parecendo bastante, pelo menos fisicamente.

Dona Conceição.... Um doce de mulher, que veio ao mundo para sorrir, ler muito, paparicar os netos e achar que todo mundo é bonzinho.

A companheira perfeita do Seu Ramos, durante mais de cinquenta anos. Ele era apaixonado por ela e lhe dava razão em todas as encrencas que, por desventura, ela tivesse com a mãe, com os filhos, ou com qualquer pessoa. Beijaram-se na boca até ele morrer, com 92 anos. E dormiam abraçadinhos.

O sorriso de dona Conceição misturou-se às lágrimas quando perdeu o pai querido, quase não sobreviveu ao perder o filho caçula, depois a mãe e o marido protetor. Mas os netos a reergueram com braços de abraços e bocas de beijos e ela voltou a sorrir.

A visão gastou nas letrinhas miúdas de leituras maravilhosas noite adentro; as pernas cansaram de tanto atravessar a cidade até o Instituto de Educação Oswaldo Aranha, todos os dias, onde foi Secretária por trinta e cinco anos, e os ruídos do mundo exigiram o reforço de um aparelho auditivo. Não foi simples para ela aceitar essas limitações, mas, mais uma vez, ela conseguiu!

Dona Conceição tomou as vacinas e passou a usar máscara ao sair de casa, protegendo-se da pandemia de Covid-19. Lamentou as visitas do neto médico que precisaram rarear e do filho e dos netos distantes. Seu consolo foi ter a filha e o neto do meio, com sua família, sempre presentes, sempre junto dela, sempre espalhando carinho e atenção.

Hoje seria mais um dia de festejar sua longa vida! De agradecer pela saúde e por todo amor que recebemos dela!

Sua lucidez fez com que ela fosse sempre a primeira a ler meus livros, com o auxílio de uma leitora; a primeira a saber de tudo que acontecia com cada um da família e a tentar entender o momento difícil que o Brasil e o mundo estavam enfrentando.

Dona Conceição viveu os últimos dezoito anos em Florianópolis, para poder contar com o apoio e a presença da filha, dos netos e dos bisnetos; aliás, as bisnetas foram sempre puro carinho com ela, que vivia com os braços cheios de bonecas para as brincadeiras; entretanto, parte da sua alma continuou lá na Mariz e Barros e nas ruas do seu, do nosso Alegrete.

Hoje eu queria, mais uma vez, te abraçar muito e te dar parabéns, mãezinha! Sou imensamente grata a Deus pelos quase 103 anos que viveste e por ter tido a chance de voltar a morar pertinho de ti, vendo-te todos os dias aqui com a gente, uma matriarca do bem e do amor imensurável por toda família.

Já estávamos combinando o cardápio da comemoração, quando, de um dia para outro, com a mudança de tempo veio a pneumonia e te levou de nós.

Não está nada fácil nos acostumarmos sem a tua presença, mesmo sabendo que, com tua alma bondosa, certamente foste recebida num bom lugar.

Até um dia mãe querida, se Deus permitir!


 

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