A pedido:
OFICINA DE LITERATURA INFANTIL
A IMPORTÂNCIA E A RESPONSABILIDADE DE ESCREVER
PARA CRIANÇAS
Palestrante: Maria Luiza Vargas Ramos
Data: 09/08/2018
Local: Centro Cultural de Alegrete
“A mim me salvaram as crianças. De tanto
escrever para elas, simplifiquei-me!”
(Monteiro
Lobato)
A Literatura Infantil teve início na
Europa, em meados do século XVIII, quando a criança deixou de ser vista como um
adulto em miniatura e ganhou um espaço literário só para ela.
No Brasil, foi só no final do século XIX que
os livros dedicados ao público mirim começaram a circular.
Com Monteiro Lobato inicia, de fato, a Literatura Infantil no Brasil.
Ziraldo e Ana Maria Machado são nomes
também consagrados nesta literatura para crianças.
Atualmente, a literatura infantil
ganha cada vez mais destaque, respondendo por 74% dos livros comercializados
nas livrarias e Feiras.
Mas ela ainda sofre preconceitos, é
considerada por alguns desentendidos como uma “literatura menor”, a ponto de
alguns escritores negarem que suas obras são escritas para os pequenos.
Escritores, educadores e pais querem
criar em seus filhos e alunos o hábito da leitura, porém muitos adultos não têm
esse hábito e encontram mil desculpas para isso, como falta de tempo, de
dinheiro, etc. Essa atitude vai tirando o interesse da criança que, no início,
via o livro como algo encantador, mágico, cheio de mistério.
A leitura de textos infantis, mesmo
para crianças não alfabetizadas, é um caminho que leva a desenvolver a
imaginação, emoções e sentimentos de forma prazerosa e significativa.
Pais e professores devem ter o hábito
de frequentar bibliotecas e livrarias, pois o exemplo é sempre um professor
muito eficaz.
É essencial que a criança possa
escolher o livro que quer ler e que tenha acesso aos livros desde cedo.
A poesia, por envolver a história e
a sonoridade, costuma agradar muito os pequenos.
Os contos de fada apresentam à
criança questões do ser humano que ela pode interpretar, como a perda, o amor,
o companheirismo, a amizade.
A ilustração é muito importante nos
livros de literatura infantil. À medida que se desenvolve, a criança passa a
exigir menos ilustrações, os jovens podem até gostar dos mesmos temas, mas
preferem livros com menos desenhos e com capa mais discreta.
Cada criança terá seu próprio ritmo
para migrar para uma literatura juvenil e depois adulta. Isso vai depender do
amadurecimento de cada um.
A literatura juvenil deveria ser uma
ponte para a literatura adulta, no entanto, em muitos casos, acontece aí uma
ruptura, o jovem se desinteressa dos livros, por falta de tempo, por questões
pessoais ou porque a leitura passa a ser uma obrigação escolar. Acabado o
prazer da leitura, o livro não é mais buscado.
Ao escrever para crianças devemos
ser simples, mas não simplórios.
A criança não aprecia uma
literatura fácil, mastigada, óbvia demais. Ela prefere sair da sua zona de
conforto e experimentar novas sensações.
As mesmas exigências feitas aos
escritores da literatura adulta são feitas aos da literatura infantil, o mesmo
cuidado com o texto, a mesma excelência.
A literatura infantil é
fundamental para que as crianças travem contato com os livros desde cedo,
acostumando-se com a sua textura, seu formato, seu cheiro e seu universo de
possibilidades.
Geralmente, a literatura infantil
abarca a criança de dois a dez anos de idade. Os menores dependem da mediação
do adulto e o texto deve ter muitas ilustrações e ser de fácil entendimento.
Deve ser interessante e servir de estímulo para os pequenos.
Ainda que passem valores e
alguns hábitos, esse não deve ser o objetivo principal do livro infantil, que
deve, sobretudo, proporcionar uma nova visão da realidade, diversão, fantasia e
lazer.
Temas adultos, como guerras,
crimes e drogas não são apropriados para crianças.
Os textos devem ser relativamente
curtos.
As ilustrações caprichadas,
coloridas, com bastante estímulos visuais.
A linguagem deve ser simples e
os fatos apresentados de forma clara.
Permanece certo caráter
didático, no ensinamento de regras e comportamentos sociais adequados.
Muitos diálogos e acontecimentos,
com poucas descrições.
Crianças e animais costumam ser
os personagens centrais das histórias que, geralmente, têm final feliz.
A literatura é uma grande aliada
da alfabetização, promovendo, inclusive, a motivação necessária para o
aprendizado.
O professor é o grande mediador
desse processo e só saberá indicar livros adequados à idade e ao conhecimento
dos alunos se ele próprio tiver uma bagagem de leitura adequada.
Além de ampliar o vocabulário,
trabalhar sentimentos e alfabetizar, a literatura faz com que a criança
aprenda, desde cedo, a apreciar a arte.
A literatura não deve ser vista apenas
como um meio, mas como um fim em si mesma. Ela é importante por si própria.
Ao ler ou ouvir uma história, a
criança pode se colocar no lugar dos personagens e assumir diferentes papéis;
ela vive a personagem, toma partido, identifica-se. Todo tipo de narrativa
oferece uma verdadeira viagem ao leitor.
Uma mediação potente por parte
da escola certamente contribuirá decisivamente na formação dos leitores.
Visitas regulares à biblioteca,
estantes de livros em sala de aula, salas de leitura, enfim, quanto mais livros
em volta, maior o contato com a literatura, maior será o estímulo.
Nas idas à biblioteca as
crianças devem conversar sobre os livros lidos, sobre os ilustradores e autores
e a forma de escrever de cada um deles.
Assim, não veremos mais pais
escolhendo livros para os filhos nas Feiras pelo preço, pela capa e pela
ilustração apenas.
A qualidade do texto é que
separa as obras literárias das não-literárias e livros mal escolhidos podem
destruir para sempre uma inclinação para a leitura.
Os professores devem também
investir nas suas leituras e estarem muito mais próximos dos livros para
poderem indicar melhor os livros aos alunos.
A literatura auxilia a
alfabetização, todavia, se os textos literários forem mal utilizados, com
exigências gramaticais, eles serão desfigurados e perderão seu encanto para as
crianças.
A TV, os jogos, a internet acabam
por massificar os comportamentos e seu excesso deixa o cérebro passivo e lento.
A criança não tem nem o trabalho de criar a imagem do personagem, porque recebe
tudo pronto. Além de algumas “celebridades” que ficam repetindo frases de
efeito vazias em seus canais.
Pior de tudo é quando a escolha
dos livros a serem adotados nas escolas, inclusive pelas Secretarias de
Educação, atende a critérios espúrios como vantagens econômicas, amizade,
compadrio, conchavos.
Aí encontramos conteúdos
totalmente inadequados sendo oferecidos a pequenos seres em formação, ou livros
sem nenhum atrativo, nada que prenda e encante a criança, afastando-a, às vezes
para sempre, dos livros e da literatura.
O livro infantil deve ser lúdico,
imaginativo, repleto de atrativos que estimulem a leitura, povoando seu mundo
de fantasia e inocência.
A leitura é a única que atinge o
consciente, o inconsciente e o subconsciente. Se há limites no mundo, não há
limites na nossa imaginação.
Muitas escolas brasileiras não se
preocupam com a cultura local, com o incentivo de adoção de obras locais nas
escolas.
Muitos educadores preferem
desconhecer as coisas da sua terra e simplesmente restringir suas aulas às
cartilhas tradicionais desatualizadas.
Além do prejuízo aos
leitores, o escritor independente, que se esforça para produzir uma literatura
de qualidade, fica marginalizado, em detrimento de livros mal traduzidos, muito
distantes da realidade dos pequenos leitores.
Investir na criança é
investir no futuro.
Porque a criança não é um
adulto em miniatura.
A criança é o adulto de
amanhã!
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