No dia dedicado às
Mulheres vou homenagear a avó paterna dos meus filhos, já falecida. Sempre a
admirei e nunca tinha escrito sobre ela. Agora resolvi fazê-lo.
VOLTAS DA VIDA
Dona Filhinha era uma mulher alta, magra, de pele clara,
cabelos finos e grandes olhos verdes. Seu nome de batismo era Docelina e ela
era doce mesmo.
Maltratada pela vida e pelos parcos recursos, estudou pouco
e logo foi trabalhar em ateliês de moda em Porto Alegre. Ela costurava muito
bem e fazia suas próprias roupas.
Sua comida era deliciosa e ela cuidava com esmero dos quatro
filhos homens, do jeito que podia, fazendo tudo com suas próprias mãos. Comia
pouquinho e trabalhava muito, sem reclamar.
Teve um grande companheiro na vida, um italiano forte e
trabalhador, que rezava com ela, dava proteção e cuidou dela até o último
momento da sua vida, inclusive nos meses que passou acamada depois de um AVC.
A religiosidade era a tônica da família. Pais e filhos
ajoelhados rezando foi um quadro que se repetiu ao longo da vida deles. Valores
preservados, respeito aos mais velhos e às instituições, com muita dificuldade
financeira formaram os quatro filhos. Seu Gustavo madrugava nas filas dos bons
colégios para conseguir bolsas de estudo e seus meninos poderem ter o estudo
que os pais não tiveram e uma vida mais folgada. Foi muito bom ver o sorriso
deles nas formaturas dos filhos e depois dos netos, sabendo o valor daquilo
para aquele casalzinho que lutou tanto, sem desviar dos objetivos, nem se
acomodar. Com a meta de conquistar um lugar ao sol, os meninos suportaram os sacrifícios
da infância pobre, compensada pelo amor dos pais e pela certeza de que
atingiriam seus objetivos na vida.
De saúde frágil, dona Filhinha só podia presentear os netos
com os doces e biscoitos que fazia (deliciosos!), ou com as mantas que
costurava, sem recursos para presentes industrializados.
Seu sobrenome – BOURSCHEIDT – ficou muito tempo escondido
sob os outros e ela nunca imaginou que, graças a ele, hoje estaria
possibilitando aos doze netos adquirirem a cidadania de Luxemburgo, de onde sua
mãe veio, e que ainda pode lhes ser muito útil algum dia.
Foi um grande presente que receberam desta avó recatada,
risonha, quietinha e que, com os cuidados adequados, teria sido uma linda
mulher também por fora, já que por dentro tinha uma grande beleza de espírito.
Dia de saudade, de lembrar essas mulheres maravilhosas que
foram surgindo em nosso caminho.
Dona Filhinha, fica aqui a minha homenagem para a senhora!
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