De tanto os navegadores portugueses espalharem seu povo
pelas terras descobertas e conquistadas, de tanto desterro, de tanto tempo a
bordo dos navios e longe dos seus entes queridos, nossa língua acabou ganhando
uma palavra para significar aquele aperto no peito, aqueles olhos tristes e
molhados, aqueles suspiros compridos... SAUDADE.
A saudade é prima irmã do amor e só sentimos saudade das
pessoas que amamos, dos tempos que foram bons. Até de nós mesmos sentimos
saudade, pois estamos em constante transformação e desgaste, portanto, somos
sempre saudosos de um tempo em que éramos mais jovens, mais bonitos, mais
cheios de esperança.
Há muitos anos sinto saudades do meu filho mais novo, que
morava em outro estado e, embora nos visitasse com frequência, estava sempre fazendo
falta nos encontros familiares, no dia a dia, em tudo. Há alguns meses ele
comunicou seu projeto de trabalhar numa grande e promissora empresa no Japão,
que requeria sua experiência, sua eficiência e acenava com propostas difíceis
de serem equiparadas por uma empresa nacional. Desde então, mesmo com ele
debaixo do mesmo teto por alguns dias, comecei a sentir saudade. Uma saudade
antecipada e dolorida, que prendia meus olhos nele, tentando fixar nas retinas
sua imagem, guardar o som da sua voz e o calor dos seus tantos abraços. Mas
precisava ser forte, disfarçar, confiar, passar otimismo, apoiar. Pelo menos
até o dia em que ele, chorando também, saiu dos nossos braços para o embarque
no primeiro dos tantos voos até o destino no Japão.
Não, não me venham dizer que dor é perder um filho para a
morte, porque disso eu entendo bem. Perdi um irmão saudável e inteligente aos
17 anos e sei o que são espinhos atravessando a alma e a destruição completa
dos meus pais.
A dor que eu falo é uma dor com esperança, uma dor com
orgulho, com a possibilidade de comunicação através de tantas tecnologias, mas
lhes garanto... dói muito também! Quando os braços da gente abraçam o vazio,
quando nossos dedos não encontram mais os cabelos do filho para um cafuné,
quando não podemos ver como ele está, se cansado, se alegre, se triste, quando
não ouvimos sua voz, suas perguntas e não as podemos responder na hora... e
quando contabilizamos a distância... juro pra vocês que é muito difícil!
Sei que o tempo assopra, que a dor da ruptura tende a
amenizar, principalmente para ele que está descortinando um verdadeiro mundo
novo. Ainda bem, pois não seria possível sobreviver com a alma tão machucada.
Por uns tempos, não será fácil sorrir e a tendência é nos fecharmos, como
ostras, guardando bem protegida a nossa saudade, que é muita!
Nada retrata melhor esse
momento do que as palavras sempre inspiradas de Chico Buarque, numa de suas
mais belas canções:
“Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais.
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais.
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus.”
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus.”
Um comentário:
Parabéns, pelo seu texto. Lindo!
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