quinta-feira, 2 de junho de 2022

O TEMPO É RELATIVO.

 

Todos morreremos. Isso é fato.

Mesmo assim, preferimos viver como se fôssemos eternos.

A vida é muita para quem sofre ou não gosta dela. A vida é pouca para quem significa muito para muitos e aprecia cada dia que nasce.

Cada pessoa, cada família tem histórias de conquistas e perdas, de triunfos e derrotas, de chegadas e partidas. Na minha família não foi diferente. Tivemos grandes perdas, algumas bem trágicas, e muitas chegadas lindas, com cheirinho de bebê.

Apesar dos homens valorosos da família, o destaque maior sempre ficou com as mulheres, verdadeiras matriarcas, sempre reunindo todo mundo em sua volta e protegendo cada um, distribuindo afeto e sorrisos aos borbotões para todos.

Com exceção das partidas prematuras e trágicas, nossa família tem uma história de longevidade e lucidez que faz os jovens terem esperança. Nossos velhos duram bastante e permanecem lúcidos até o fim. Isso faz com que a gente até esqueça da idade que eles têm, das limitações naturais do corpo e não queira perdê-los.

Há dez dias perdemos nossa estrela guia, minha mãe, que do alto dos seus quase 103 anos (faltava um mês para completar) conseguiu tatuar seu amor no coração de cada um, deixando uma saudade imensa e uma falta difícil de ser preenchida.

Dona Conceição semeou amigos e admiradores à mão cheia pela vida, conservando os da sua terra natal e acrescentando os novos, de sua nova morada, além dos amigos de seus filhos, de seus netos e até dos bisnetos.

Com ela descobri a magia da leitura, o prazer de ler, que acabou se transformando também no prazer de escrever livros, muitos deles dedicados a ela, que fazia questão de ser a primeira a conhecer os enredos e a opinar sobre eles.

Meu irmão Tibério seguiu pelo mesmo caminho, tornando-se um leitor voraz e também escritor. Aos nossos pais devemos muito do amor que temos pelos livros, pois eram nossos exemplos, além de possuírem uma farta biblioteca e conversarem bastante sobre as leituras. Lembro que, quando meu pai perdeu a visão, eu já não sabia o que dar de presente a ele, que adorava receber livros.

Num tempo em que eram raras a mulheres que trabalhavam fora de casa, Dona Conceição já lecionava e depois foi Secretária geral da maior escola da cidade, o Instituto de Educação Oswaldo Aranha, por 35 anos, num tempo de fazer médias à mão e depois naquelas calculadoras de manivela.

Nunca vi minha mãe cozinhando, ou lavando roupa, no entanto, participei de muitas formaturas onde ela lia o nome dos formandos, entregava os diplomas e preparava a Ata. Sempre com um livro na mão, ouvindo novelas no rádio e namorando seu Ramos, meu pai, até o fim, com uma cumplicidade invejável. Quando ele perdeu a visão, ela lia todos os jornais para ele. Quando ela não conseguiu mais ler, contratei a Luiza para ler para ela.

Dona Conceição foi, sem sombra de dúvida, a melhor avó do mundo e, não por acaso, seus netos choram inconsoláveis com sua partida.

A melhor bisavó dessa mulheradinha que nasceu, brincando de bonecas com todas, criando histórias, fazendo casamentos. Isso depois de brincar muito de carrinho com o único varão.

Agora ela se foi. E deixou um vazio muito difícil de preencher. Os anos passados, as limitações, tudo isso explica, mas não consola.

Bom mesmo seria saber que ela encontrou seus amados lá em outro plano e que está bem, fazendo amigos, achado todo mundo bonzinho, distribuindo sorrisos, como sempre fez.

Oxalá!


 

3 comentários:

Anônimo disse...

Ameeeei vc falou tudi dela.

Anônimo disse...

Berenice Vargas

Anônimo disse...

Nunca vou esquecer desta prima q sempre exaltei ( em vida) tmb embora de longe.Ela cuidará d nós .