Nesses novos tempos, as expressões “sociedade” e
“comunidade” se esvaziaram, porque cada um se acha dono absoluto da sua vida,
dos seus pensamentos, do seu comportamento, faz apenas o que quer e acredita no
que quiser.
Na busca por admiradores, ou simplesmente para se ver na
vitrine, usa e abusa das redes sociais, postando inverdades, aumentado fatos,
desonrando pessoas, ou simplesmente bisbilhotando a vida alheia.
Poucos usam esses canais de comunicação de forma adequada,
para interagir com amigos, trocar experiências, reencontrar pessoas. E esses,
muitas vezes, são obrigados a ler e ver coisas extremamente desagradáveis,
publicadas com o intuito único de chocar, de revoltar, de tornar mais infelizes
aqueles que as leem.
Podemos considerar que as redes sociais sejam uma grande
vitrine do comportamento humano, em todas as faixas de idade e em todas as
condições sociais. A humanidade está doente e isso se evidencia nas postagens,
nos mais diversos canais. Milhares de seguidores de gente desclassificada,
falsidade absoluta nos elogios, montagens grosseiras, notícias mentirosas e mil
outras infestações do vírus humano mais doentio.
Nas redes sociais a barbárie é esfregada na nossa cara,
cenas grotescas, maus tratos, perversões, fanatismos, tudo elevado à potência
do anonimato, ou da forma espúria de postar e correr.
Brigas por política, religião e preconceitos são exacerbadas.
Aliás, hoje quase tudo o que se diz é considerado preconceituoso e as minorias
se alçaram a um patamar de glória absoluta, inatingíveis, coroadas de louros,
escarnecendo dos comuns mortais e seus valores.
A violência atinge patamares impensáveis, quando nem mesmo
os pequeninos são poupados. Tanto na vida real quanto nos canais de comunicação
do mundo virtual.
A natureza humana está sendo modificada e de carnívoros
passamos a herbívoros, considerando atrocidades todos os churrascos que nos
prepararam pela vida afora. O leite da vaca é só para o bezerro e o ovo da
galinha só para gerar pintinhos, que ciscarão ad infinitum, pois não devem ser
comidos.
Os animaizinhos de estimação (cada vez em maior número)
devem substituir as crianças nos lares e receberem todo o zelo e todo afeto que
antigamente se destinavam a elas, vivendo com roupas, sapatos, dormindo nas
camas, nos colos, no coração das pessoas, pouco inclinadas a precisar educar e
domar os gênios dos rebentos quando entram na adolescência e as cobranças de
quem sabe falar e não abana o rabo sempre que ouvir sua voz.
Tudo isso assistimos nas redes sociais, que, em última
instância, mostram a solidão das pessoas mais velhas, a incomunicabilidade das
famílias e a necessidade de afirmação dos jovens.
Enganam-se os que menosprezam esse contato, que
ridicularizam e temem a exposição, porque não são melhores, nem estão acima,
apenas se escondem sob o silêncio, sob a falta de curtidas e comentários, como
se não acessassem mil vezes sua rede durante o dia inteiro, apenas
bisbilhotando, sem coragem de se manifestar. Nesses casos, melhor os que se
mostram, se revelam, porque terão um contato mais verdadeiro com seus
semelhantes.
Se você não usa redes sociais e se comunica muito com seus
amigos, com sua família, com a sociedade, sem ficar preso ao celular ou ao
computador, trabalhando efetivamente em prol de uma humanidade melhor –
parabéns!
Agora, se isso for só fachada... pense melhor e aproveite os
benefícios que a rede social pode trazer, quando bem utilizada!
Um comentário:
"Igual que en la vidriera irrespetuosa
De los cambalaches se ha mezclao la vida"
(Cambalache - Enrique dos Santos Discépolo - 1935).
Da mesma forma que na vitrine sem respeito de um brique, se mistura a vida.
Postar um comentário