Morre-se muitas vezes durante a vida. E se renasce também.
Minha mãe - Conceição – morreu um pouco quando perdeu seu
pai, que era a luz do mundo para ela e se foi muito novo, vitimado pelo cigarro
e pela política.
Depois quase morreu de verdade ao perder o filho caçula, da
forma mais trágica e bestial que um adolescente pode morrer.
Quando meu pai ficou cego, sua luz se apagou junto e até
hoje ela passa muito tempo de olhos fechados, de tanto que tentou imaginar o
mundo dele e ser solidária.
A quase paralisia da sua mãe durante longos anos tirou-lhe
muito do brilho e apagou seu sorriso tão bonito.
Minha mãe morreu muito quando a degeneração macular a
impediu de ler, sua maior paixão, seu lazer por excelência, seu consolo de
tudo.
Então eu fui resgatá-la e trazê-la para perto de mim e dos
meus filhos. A saída da terra natal e da casa onde vivera a vida toda e
trouxera seus filhos ao mundo foi outra morte em vida.
Só que ela ressuscitou! Graças a Deus e aos mimos dos netos,
o carinho dos bisnetos e a casa sempre cheia, com bebês ao colo, brinquedos,
bonecas por todo lado e a mesa sempre repleta e barulhenta, como ela gosta!
Além da turma local, o filho e a nora a enchem de paparicos
quando vêm visitá-la, bem como os netos e bisnetos da capital gaúcha.
A enteada-filha, que se parece mais com ela do que a própria
filha, também não a esquece, assim como o genro e o ex-genro, que a consideram
uma segunda mãe.
Neste renascimento também foi importante a colaboração da
nordestina Ivete, que conhece todas as suas preferências, o fisioterapeuta Luiz
que não a deixa parar, o radialista Carlos, que conversa e reza com ela pelo
rádio até ela pegar no sono e, sobretudo, a leitora Luiza, uma quase neta que
lê jornais, revistas e romances para ela diariamente!
Além disso tudo, os amigos continuam a procurá-la por
telefone e ela sempre tem o maior prazer em conversar com eles e saber notícias
da sua terra e da sua gente.
Minha mãe é uma mulher encantadora, uma fortaleza disfarçada
naquele sorriso meigo e nas mãos pequenas que não param de gesticular. É
completamente apaixonada pela família e até agora põe os netos no colo para fazer
cafuné, além de assistir todos os jogos do seu Inter com eles, comendo pipoca,
torcendo, escalando, nervosa.
Ela entende de política como poucos e seus médicos adoram
pedir sua opinião e ouvi-la contar casos da política desde Getúlio Vargas.
Dona Conceição ensinou
as bisnetas a brincar de bonecas, criando enredos e diálogos e, com isso,
incentivando a leitura.
Passei muitos anos só desfrutando da companhia da minha mãe
nas férias. Ainda bem que tive esta segunda chance e que hoje almoçamos juntas
diariamente e conversamos bastante na hora do café da tarde.
Parabéns mãezinha!
Viver noventa e seis anos com essa lucidez e essa saúde é a
recompensa por tudo o que passaste e pela maneira forte e resignada com que
enfrentaste as intempéries.
Sou tua fã!
E te amo!
Muitas felicidades e muitas bênção divinas!
2 comentários:
Agora na presença de uma amiga , aprendi enviar um comentário, sobre tudo que sempre leio aqui e não conseguia comentar. Minha amiga é uma advogada e já começou ler teu blog. Depois fará seu comentário.
Bem vindas as duas! Beijos.
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