Será este mundo, que percebemos através da tela de um computador, menos real do que esse outro no qual somos obrigados a existir?
Em qual deles somos mais nós mesmos, em qual fingimos mais?
O que parece , mas não é? Ou o que não se preocupa em parecer e, isso sim, em ser?
Será mais autêntico o viver de quem tem louça suja na pia, camas por fazer, almoço para preparar, pepinos para resolver, decepções para sofrer, insatisfações para engolir, espelhos a desafiar? Por quê?
A quem revelar a alma, confessar os sonhos, perguntar, descobrir, admirar, compartilhar, curtir?
Tão fácil receber os amigos de pijama, em qualquer canto da casa, fugindo para o mundo deles mesmo no meio de problemas e pessoas desagradáveis, que nem sempre nos alcançam, ou mesmo se interessam por nossas questões mais profundas, nossas angústias existenciais, nosso descontentamento íntimo, ou a causa daquela sombra opaca em nossos olhos.
Como preencher uma manhã de domingo cinzenta, silenciosa, vazia, se não fosse essa janelinha mágica que nos transporta a lugares outros, onde pessoas diferentes estão ou estiveram e que nos parecem tão mais interessantes ou agradáveis?
Algumas pessoas, que aqui desfrutam da nossa intimidade, talvez não nos reconhecessem na rua, ou se desviassem do que é essencial por constatações físicas irrelevantes diante da comunhão espiritual.
Se, entretanto, fossem convocadas a nos descrever pelo lado que mais importa, certamente esses companheiros de virtualidade chegariam muito mais próximos do cerne da nossa questão - ser ou parecer?
Quando a vida nos sufoca, quando somos obrigados a nos envolver com pessoas e problemas rotineiros e cansativos, numa falta absoluta de significância, nesses momentos absolutamente enfadonhos e desgastantes, é muito bom saber que estamos a um clic de um outro mundo, um abre-te sézamo que pode nos salvar da mesmice e nos reportar a algo bem mais completo, ameno, estimulante- um mundo que, para nós, é absolutamente mais real.
Bem vindos a ele!
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