Quando as pessoas são mais moças que nós, vamos sempre
tratá-las como jovens. Quando essa pessoa foi companheira de brincadeiras do
nosso irmão caçula, não há como não achá-la mais jovem ainda.
Ontem perdemos o Laco, que se chamava Fernando e era filho
da dona Lívia e do Dr. Cassiano. Ela, uma modista renomada, ele dentista e
político. Gente tradicional do nosso Alegrete. Moravam na encantada primeira
quadra da rua Mariz e Barros, onde cada casa tinha várias crianças de idades semelhantes
e só na casa dos Motta tinha oito! Quase todo ano a Mara aparecia lá em casa,
toda solene, para participar o nascimento de mais um irmãozinho. A mesa deles
era uma festa e mesmo com tanta criança em casa a “sesta” do chefe era sagrada,
ninguém piava. Como não piavam em nenhuma outra casa da rua depois do almoço.
Era um silêncio pesado e ai da criança que ousasse gritar ou arrastar alguma
coisa!
Laco era franzino, magrinho, tinha orelhas teimosas e uma
grande vivacidade no olhar. Muito amigo do meu irmão Dadinho, viviam juntos,
brincando, assim como eu e a Mara, o Tibério e o Afonso. Como amiga da família,
ajudava a Mara a cuidar dos irmãos, ensinar os deveres, embalar no colo, enfim,
participei bastante da infância deles e eles da minha.
Acho que a vida deveria seguir em linha reta até o fim e que
sempre os mais velhos deveriam morrer primeiro. Seria mais natural e mais
aceitável. Mas as doenças, os acidentes, os crimes não obedecem esta regra e assim
vamos perdendo gente novinha, produtiva, com tanta coisa para viver, ensinar e
aprender.
Primeiro foi a Márcia, agora o Laco e assim a “ninhada” do
Dr. Cassiano vai ficando desfalcada. O que consola é saber que ele e a dona
Lívia devem estar por lá esperando por esses que tão cedo partiram daqui.
Quem sabe ele encontra o Dadinho e eles colocam o papo em
dia?!
Mas que dá pena, isso dá...
3 comentários:
Ah, que da pena isso dá. A morte é uma coisa muito estúpida, a gente não aceita, mas TEM que aceitar. É um conflito e u desespero que enfrentamos desde o dia em que nascemos. Bjs
Infelizmente é ordem natural das coisas... é triste mas estamos nesta vida emprestados... um dia todos iremos embora...
Se um dia eu morrer, juro que será totalmente contra a minha vontade!
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