Poucas pessoas da minha geração tinham máquina fotográfica
em casa; por essa razão, muita gente quase não tem registros de momentos
importantes para mostrar aos descendentes e aos novos amigos. É claro que na
memória temos tudo cristalizado, ainda mais se foi realmente importante, mas
não dá pra mostrar, infelizmente.
Para os eventos maiores, festas, casamentos, batizados, algumas
famílias chamavam fotógrafos profissionais. Graças a isso, na casa da minha mãe
há grandes (enormes) álbuns de fotografias, com todo mundo sempre muito arrumado,
lindas fotos em preto e branco, com a assinatura dos fotógrafos alegretenses,
conhecidos por sua competência. Poucos têm um registro tão completo como nós,
porque eles requisitavam com frequência esse trabalho.
Mesmo assim, ficaram faltando aquelas fotos do cotidiano, os
instantâneos, tão lindos na infância e na juventude e tão temidos na “melhor
idade”.
Como eu gostaria de ter podido fotografar minhas minissaias
com botas até o joelho, os vestidos tubinho, o lindo uniforme do Científico do
IEOA, a boina branca que usávamos numa época e que nos deixava com um ar moleque
delicioso, as aulas de balé, as apresentações de ginástica rítmica com a dona
Renata, os jogos de vôlei na quadra do colégio, as audições de piano no
Caixeral com a dona Cyra, a saída do cinema aos domingos enchendo a rua Ipiranga,
os ensaios da banda, os ensaios do Orfeão, a farra na piscina do Tênis, os
passeios de mãos dadas com meu avô Eduardo pela praça, as conversas com meu pai
na hora do mate, na espreguiçadeira, vendo o sol se pôr, as incursões na
cozinha com minha avó Odith, os ensaios das declamações com a minha mãe, os
brinquedos de mocinho e bandido com meu irmão Tibério, os cuidados maternais
com meu irmão Dadinho, enfim, ficou um mundo sem registro pela falta de uma máquina
de fotografia em casa, à mão.
Com meus filhos já foi diferente. Eternizei em fotos cada
sorriso, cada acontecimento, cada momento, em incontáveis álbuns, devidamente
legendados por mim, como se contasse uma história de cada um deles. E será que
eles vão valorizar isso? E será que suas novas famílias terão um lugar na casa
para acomodar tantas lembranças? Principalmente quando a dona da casa não
dispuser de igual acervo de sua própria meninice?
Agora preparo os álbuns dos netos, com a mesma dedicação, as
mesmas legendas e o mesmo exagero de fotos. Bruna, com 5 anos, já está no
oitavo álbum e Alice, com seis meses, está inaugurando o segundo. Do Lucas
tenho menos, porque ele passou os primeiros anos de vida morando longe, mesmo
assim, são seis robustos registros. Por enquanto são meus; um dia, cada um
pegará os do seu filho e fará com eles o que bem entender.
Hoje em dia, as pessoas vivem batendo fotos, principalmente
com seus potentes celulares, mas raramente as imprimem e acabam perdendo tudo,
ficarão tão sem registro quanto os da minha geração e das anteriores.
Agora, em festa dos netos, ou apresentações deles, chamo
sempre um fotógrafo, pois não quero perder nada batendo fotos, quero só curtir
a festa e posar ao lado deles.
Claro que são as melhores fotos!
E o registro pessoal, amoroso, fica ainda mais forte sem a
preocupação de manejar aquela maquininha.
4 comentários:
Eu adoro fotografar tudo... aqui em casa me chamam de ''paparazzo''. Não perco nada e revelo a maioria, mesmo porque as fotos que ficam no computador dificilmente alguém que não seja da família irá ver...
Belo texto, Maria Luiza.
Brinco que tenho vontade de rezar pela alma de quem inventou - e de todos que aperfeiçoaram - a fotografia.
Já estou na fase de entregar os álbuns a meus filhos.
Beijos e boas fotos.
Minhas queridas, ainda não entreguei os álbuns porque, se eles têm alguma desavença familiar (como já aconteceu) o primeiro sacrificado é o pobre álbum...kkk
Bem isto Maria Luiza,fotos tempos que guardar as de papel,pois as outras se perdem nestas máquinas modernas,(celular e computador).Fora os albúns,tenho uma estante,pequena mas as fotos da familia são adornos junto aos livros.
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