Setembro é um mês que mexe muito comigo. É o Inverno
acabando, a profusão de flores, o aniversário do meu irmão e o mês em que me
tornei Mãe. Além disso, é o mês do meu Rio Grande do Sul, da Semana Farroupilha
e do culto das nossas tradições, repassado com detalhes a cada geração de gaúchos.
Nesse mês a condição de “desterrada” se acentua e os motivos
que me afastaram do pago costumam ser questionados, sempre acompanhados de um
menear de cabeça como a dizer que poderia e deveria ter sido diferente.
Eu vim, me trouxeram, mas deixei minha alma lá, na velha
casa da Mariz e Barros, no meu Alegrete. E é de lá que escrevo, que crio
histórias e que revejo meus amigos da vida toda nas redes sociais.
Continuo tomando mate, falando com sotaque, adorando uma
costela gorda assada e achando que o cavalo é o animal mais bonito, útil e
garboso do mundo. Além disso, não perdi o costume de olhar nos olhos, de rir
com vontade, de ser prestativa e afável com as pessoas. Coisas que são
inerentes à personalidade de quem se criou por lá, a não ser nas exceções, que
sempre confirmam a regra.
Sempre conto que fiz Mestrado por aqui e levei um ano muda,
até conseguir furar o bloqueio das pessoas que se julgavam mais sabidas, porque
eu tinha feito minha graduação em Alegrete. Depois, pra compensar, fui a
primeira de uma turma de catorze a defender a Dissertação e ser aprovada com conceito
A.
O Doutorado fui fazer em Porto Alegre, na UFRGS, pois não
havia ainda aqui, na minha área de estudo. Cheguei cabreira, pelos cantos, não
conhecia ninguém, mas fui logo envolvida pelos colegas e professores que me
arrastaram para a mesa deles já no primeiro almoço no Campus e emprestavam
livros, ajudavam nos trabalhos, compensavam o sacrifício de viajar daqui para
lá todas as semanas, deixando os filhos sozinhos em casa e me matando de assistir
aulas o dia todo, viajar à noite e trabalhar no dia seguinte. A receptividade gaúcha,
da qual já estava esquecida, foi a grande responsável pelo sucesso do meu Curso,
viabilizando um objetivo ousado que muitos apostavam que eu não conseguiria
atingir, que não resistiria ir até o fim, me esgotaria antes e pagaria caro pelos excessos.
Com que cor devo tingir o texto que retrata minha saudade do
torrão natal? Sim, porque somos gaúchos e alegretenses bem antes de
brasileiros, é assim que sentimos, não tem jeito!
Para a esperança usamos o verde.
A tristeza pintamos de roxo.
O preto traduz o luto.
O branco é a cor da paz.
O vermelho e o amarelo encerram a alegria.
E a saudade? Um arco-íris? Mas daí vai ficar parecendo uma
certa bandeira.
Então? Que cor devo usar para falar da saudade, daquele sentimento
que esmaga o coração da gente, que dá vontade de voar pra lá, de estar junto, de
abraçar, de aplaudir?!
Ainda não sei. Mas conto com a ajuda de vocês para
descobrir.
- Buenos dias tchê!
Um comentário:
Como é bom ler tuas crônicas,a saudades que sentes da "terrinha",é o sentimento de todos que de lá partiram.É taõ bom saber que tem alguém que consiga traduzir de uma maneira singela e poética,nossa conterrânea homenageada é pura essência de mais nobre sentimento,amor pela sua terra natal.
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