Se existe uma coisa que sempre me emociona e me faz virar a
cabeça para olhar é um casal já bem idoso, de mãos dadas, um se preocupando com
o outro, no mesmo passo, numa cumplicidade infinita.
Claro que depois de tanto tempo juntos a paixão se transformou,
o amor ficou também fraternal, maternal, mas sempre amor.
Eles atravessaram todas as fases da vida lado a lado, estão
em todas as fotos, no semblante dos filhos, no sobrenome dos netos, enfim,
escreveram sua própria história, mas permanecem um casal, como originalmente
foram.
Sabem cada gosto do companheiro, cada mania, e conhecem o
outro pelo andar, pela forma de olhar e até por algum trejeito na boca, nas
mãos, enfim, conhecem o parceiro como a si mesmos.
Muitas vezes, os casais se separam até para cuidar melhor da
prole, deixando o vínculo primordial de lado e tomando partidos errados, a
favor dos filhos, por exemplo. No fundo, os filhos gostam mesmo é quando os
pais tomam partido um do outro e, mesmo que sobre menos tempo e atenção para eles,
raro é o filho que não fica feliz vendo a união e o amor dos pais.
Meus pais se beijaram na boca até a morte dele, aos noventa
e dois anos. E ele não deixava ninguém sentar à mesa se sua atrasada esposa não
tivesse chegado. Nas discussões dela com algum filho adolescente (eu, por
exemplo), ele sempre tomava partido dela, ela estava sempre com a razão e não
havia ninguém no mundo mais importante para ele do que ela. Quando minha mãe
precisou fazer uma cirurgia ele já estava cego, mas não desgrudou um minuto da
porta do bloco cirúrgico até os médicos virem atualizá-lo dos procedimentos e
garantirem que ela estava bem. Depois, passava os dias na cama auxiliar,
internado ao lado do seu grande amor.
Talvez esse exemplo tenha me feito gostar tanto de ver
velhos casais nas praças, nas igrejas, nas festas e até nas salas de espera dos
consultórios, sempre unidos, como prometeram um dia: na alegria e na tristeza,
na saúde e na doença.
Pode ser piegas, pode ser ultrapassado, pode ser que vocês
achem velhos sempre feios e sem graça, é um direito que lhes cabe.
Eu adoro vê-los, eu os acho lindos, eu os invejo e acho que
eles foram muito mais felizes do que esses que os menosprezam.
É isso.
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