quarta-feira, 6 de julho de 2016

ULTRAPASSADA



                         Não falta quem diga que temos que acompanhar todas as mudanças dos tempos e vivermos como se tivéssemos eternos vinte anos.
                        Assim, tudo o que vimos, aprendemos e vivemos não têm mais valor algum diante dos novos conceitos e dos avanços tecnológicos. Está tudo ultrapassado, démodé, constantemente ridicularizado. “Isso era no seu tempo!” é uma frase que ouvimos cada vez que tentamos citar algum valor, ou alguma postura da nossa mocidade.
                        Acho ridículos todos os velhos que se vestem e agem como os filhos e netos, embora lhes dê o direito de pensar o mesmo de mim. Uma velhinha “sacudida e rebolativa” para mim beira o insano, assim como gíria em boca de dentes implantados.
                       Quando vejo o comportamento das moças, suas roupas, seu palavreado chulo, sua desfaçatez com tudo o que era considerado feminino, reconheço que pertenço a outro tempo mesmo. A aversão pelos trabalhos domésticos, a inutilidade diante de um fogão, a falta de valores e de pudor, a falta de “compostura” (como dizia meu pai) tudo isso que compõe as moças de hoje  me colocam numa distância considerável delas.
                       Acho que os homens melhoraram bastante, se aprimoraram, participando muito mais nas famílias, na casa, com os filhos. E isso foi bom.
                        Minha geração, que às vezes parece ser pré-jurássica, teve que aprender muitas coisas, aceitar muitas coisas e conviver com outras inusitadas. Fazemos concessões diárias para não precisarmos ficar ouvindo sempre a mesma ladainha, que nossas reclamações pertencem a outro tempo.
                       Não é fácil, para quem teve anos e anos de escola e catequese, dizer com naturalidade que as famílias podem ser formadas por casais hetero ou homoafetivos. Não foi isso que nos ensinaram durante muito tempo, nem o que nossas famílias nos diziam ser o normal, o aceitável.
                       Não nos acostumamos a ver animais domésticos substituindo as crianças nos lares, nas camas, na vida das pessoas. Sempre convivemos com eles, todavia a distância era bem maior.
                       Nas escolas públicas ou particulares os alunos sabiam que a autoridade máxima na sala de aula era o professor, sempre respeitado, homenageado e tratado com distinção pelos alunos, pelas famílias e pela sociedade. Alunos que gritam, batem portas e até agridem professores, para nós, seria caso de expulsão imediata e até de polícia.
                     Nas famílias, o pai e a mãe tinham sempre a palavra final, os avós eram respeitados e tratados com consideração e carinho e as crianças deviam obedecer a aceitar que os adultos é que sabiam o que era melhor para elas. Crianças de tenra idade fazendo exigências, se recusando a comer ou a tomar remédios, se negando a colocar um agasalho, gritando e esperneando até conseguirem o que querem, seria caso específico para uma boa palmada e um castigo de reflexão. Todos tinham hora para comer, para tomar banho e para dormir e o estudo rendia bem mais antes dos jogos eletrônicos e das redes sociais.
                      Não acho que essa geração seja de pessoas mais felizes. Não sei se aquelas bundas se esfregando no funk sentem a mesma emoção que sentíamos no toque das mãos no cinema, no rosto colado na dança.
                     Os tempos mudaram. Sempre mudam. É normal. Só não sei se estão mudando para melhor ou para pior.
                     A falta de decoro está em todas as rodas, extrapolando na política, onde os Excelentíssimos gritam, esbravejam, falam palavrões, mentem, roubam e dão uma banana para o povo que votou neles.
                    Não foi sempre assim. No meu tempo não era. Estou mesmo ultrapassada.