quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O MUNDO AZUL DE ALICE



Este conto consta do livro infantil recém lançado - ABRACADABRA.

 
                Mamãe foi ficando com uma barriga grande...
                E papai olhava para ela com cara de contente, fazendo carinho naquele barrigão enorme com um umbigo no meio.
                A casa ganhou um quarto novo, cheio de enfeites cor-de-rosa e uma caminha branca onde dormia a boneca de pano feita pela avó.
               Uma noite, mamãe acordou assustada e saíram todos correndo para a maternidade.
               Na volta, além deles, vinha alguém encolhidinho numa cadeira no carro, um bebê dorminhoco e rosadinho – EU.
               Não me lembro de muita coisa, só sei que mamar no seio da mamãe era muito bom e que o colo do papai era bem quentinho.
               De banho e gente me pegando no colo e falando alto eu não gostava muito não.
               Aos poucos, fui enxergando as coisas e as pessoas.
               Todo mundo chegava bem pertinho do meu rosto e ficava falando coisas que eu não entendia.
               Um dia, abri bem os olhos e finalmente conheci meu quarto, minha casa, minha mãe, meu pai e um menino que sempre sorria para mim, segurava minha mãozinha e me chamava de “mana”.
                O que me deixava intrigada era que as pessoas sempre repetiam a mesma palavra quando vinham me conhecer:
               - Azul!
               Demorei a entender que azul era uma cor e que esta era a cor dos meus olhos.
               Percebi que as pessoas eram diferentes e que a cor dos olhos delas também não era igual.
               Na minha casa só os meus olhos possuíam essa cor, mas o meu avô, pai do meu pai, tinha os olhos azuis como os meus.
               O que será que ia acontecer comigo?
               Será que tudo o que eu olhasse seria azul?
               Minha comida, meus brinquedos e até a minha família, eu veria todos eles azuis?
               Fiquei triste, até chorei um pouquinho, no entanto, ninguém entendeu o motivo. Acharam que eu queria mamar, ou dormir.
              Até que, no meio da noite, o coelho branco que ficava ao meu lado na cama, de repente começou a falar:
              - Não fique triste pequena Alice! Seus olhos são iguais aos olhos de todo mundo, só a cor é que é diferente!
             Ué, como é que aquele coelho falava? E como é que eu entendia?
             Ele continuou:
             - Às vezes, o Céu resolve pintar os olhinhos dos bebês, como no seu caso, e eles ficam assim, azuizinhos.
            - Quando é o Mar que pinta, ou as Árvores, os olhos ficam verdes.
            - Quando é a Terra, os bebês nascem com os olhos marrons.
            - Se for o Sol, os olhos ficam dourados.
            - E, se é a Noite, nascem crianças com os olhos pretinhos.
            Minha boca nem fechava de espanto...
            - Quer ver? continuou o coelho. Vou te mostrar!
            O coelho branco pegou um espelho redondo de cima da cômoda e colocou na minha frente.
            - Olhe bem para os seus olhos! Viu? São azuis.
            - Agora, olhe para os meus. Notou a diferença? São vermelhos como os olhos de coelhos que adoram cenouras!
           Ainda de olhos arregalados, percebi a diferença. E fiquei muito mais tranquila.
           Eu não veria tudo azul!
           Tempos depois, conheci todo mundo. Gostei mais das crianças da família, porque eram muito mais divertidas!
          Cada um deles tinha olhos de uma cor, mas todos enxergavam tudo igual.
         Olhos azuis são muito bonitos, mas ver o mundo todo azul não ia ter a menor graça!






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