Este conto consta do livro infantil recém lançado - ABRACADABRA.
Mamãe foi ficando com uma barriga grande...
E papai olhava para ela com cara de contente, fazendo
carinho naquele barrigão enorme com um umbigo no meio.
A casa ganhou um quarto novo, cheio de enfeites cor-de-rosa
e uma caminha branca onde dormia a boneca de pano feita pela avó.
Uma noite, mamãe acordou assustada e saíram todos correndo
para a maternidade.
Na volta, além deles, vinha alguém encolhidinho numa cadeira
no carro, um bebê dorminhoco e rosadinho – EU.
Não me lembro de muita coisa, só sei que mamar no seio da
mamãe era muito bom e que o colo do papai era bem quentinho.
De banho e gente me pegando no colo e falando alto eu não
gostava muito não.
Aos poucos, fui enxergando as coisas e as pessoas.
Todo mundo chegava bem pertinho do meu rosto e ficava
falando coisas que eu não entendia.
Um dia, abri bem os olhos e finalmente conheci meu quarto,
minha casa, minha mãe, meu pai e um menino que sempre sorria para mim, segurava
minha mãozinha e me chamava de “mana”.
O que me deixava intrigada era que as pessoas
sempre repetiam a mesma palavra quando vinham me conhecer:
- Azul!
Demorei a entender que azul era uma cor e que esta era a cor
dos meus olhos.
Percebi que as pessoas eram diferentes e que a cor dos olhos
delas também não era igual.
Na minha casa só os meus olhos possuíam essa cor, mas o meu
avô, pai do meu pai, tinha os olhos azuis como os meus.
O que será que ia acontecer comigo?
Será que tudo o que eu olhasse seria azul?
Minha comida, meus brinquedos e até a minha família, eu
veria todos eles azuis?
Fiquei triste, até chorei um pouquinho, no entanto, ninguém
entendeu o motivo. Acharam que eu queria mamar, ou dormir.
Até que, no meio da noite, o coelho branco que ficava ao meu
lado na cama, de repente começou a falar:
- Não fique triste pequena Alice! Seus olhos são iguais aos
olhos de todo mundo, só a cor é que é diferente!
Ué, como é que aquele coelho falava? E como é que eu
entendia?
Ele continuou:
- Às vezes, o Céu resolve pintar os olhinhos dos bebês, como
no seu caso, e eles ficam assim, azuizinhos.
- Quando é o Mar que pinta, ou as Árvores, os olhos ficam
verdes.
- Quando é a Terra, os bebês nascem com os olhos marrons.
- Se for o Sol, os olhos ficam dourados.
- E, se é a Noite, nascem crianças com os olhos pretinhos.
Minha boca nem fechava de espanto...
- Quer ver? continuou o coelho. Vou te mostrar!
O coelho branco pegou um espelho redondo de cima da cômoda e
colocou na minha frente.
- Olhe bem para os seus olhos! Viu? São azuis.
- Agora, olhe para os meus. Notou a diferença? São vermelhos
como os olhos de coelhos que adoram cenouras!
Ainda de olhos arregalados, percebi a diferença. E fiquei
muito mais tranquila.
Eu não veria tudo azul!
Tempos depois, conheci todo mundo. Gostei mais das crianças
da família, porque eram muito mais divertidas!
Cada um deles tinha olhos de uma cor, mas todos enxergavam
tudo igual.
Olhos azuis são muito bonitos, mas ver o mundo todo azul não
ia ter a menor graça!
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