quarta-feira, 26 de novembro de 2014

APOCALIPSE PESSOAL



                      Segundo o Apocalipse, o mundo acabará quando a humanidade chegar a um ponto em que nada mais tenha sentido ou conserto e os homens “não se arrependerem das obras de suas mãos e adorarem os demônios e os ídolos de ouro, de prata e de cobre, e de pedra e de pau, que não podem ver, nem ouvir, nem andar; e não fizerem penitência dos seus homicídios, nem das suas impurezas, nem dos seus furtos.(...) Estas palavras são muito fiéis e verdadeiras. Bem aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro.(...) Certamente que venho logo. Amém.”
                       Eu não gostaria que o mundo acabasse, ou a vida no planeta Terra, porque sempre haverá alguém da nossa descendência querendo e merecendo viver. Vejo meus netos crianças e, se pudesse, faria o mundo e a vida ainda mais bonito e bom para eles. Eliminaria toda maldade da face da terra e encheria os caminhos de flores e bichinhos dóceis para eles passarem.
                       Infelizmente, pouco depende de mim, quase nada na verdade. Procuro fazer a minha parte, educando os jovens, cutucando os adultos, tentando despertar consciências, promovendo reflexões constantes sobre a vida e as atitudes das pessoas. Mas é pouco, eu sei.
                       Por muitas pessoas fui e sou tachada de “careta”, uma vez que nem tudo aceito com facilidade, com normalidade, por acreditar que a vida em sociedade exige um certo código de ética e de postura. Tive um pai maravilhoso, responsável, protetor, mas exigente e com valores bem definidos. Casei duas vezes com homens de formação moral semelhante, que encaram a vida de forma parecida, portanto, não fui levada a me modificar em nada. Assim criei e eduquei meus filhos, ensinando-os a respeitar e a se fazer respeitar; a filtrar o que é bom e ruim naquilo que a vida e os outros lhes ofertam; a buscar seus sonhos sem precisar esmagar o sonho de ninguém e a conquistar suas coisas com esforço próprio.
                       Fui obrigada a aceitar muitas mudanças nas pessoas e nos comportamentos, esforçando-me para não criticar, para tentar entender, para encarar com naturalidade. Muitas coisas não foram fáceis. Há quinze anos assisti ao beijo de duas meninas num shopping da capital gaúcha e fiquei paralisada. Acho que foi o primeiro sinal do apocalipse para mim. Depois disso, ah meu Deus, depois disso já tive que engolir muita “modernidade”, coisas que nem precisariam ser mostradas, uma vez que a privacidade deveria ser condição essencial para todos os relacionamentos amorosos.
                       Não faz muito tempo que me assombrei com o fato das pessoas comprarem água para beber. Sempre tive filtros e a água me parecia uma fonte inesgotável, uma vez que gastava todo o lápis de cor azul pintando os rios, lagos e mares brasileiros nos mapas da escola.
                       Tanto plástico boiando, tantas garrafas pet recicladas, nada disso existia num tempo de embalagens de vidro e leite de leiteiro na porta de casa.
                      Já não me surpreendo com quase nada, no entanto, a seca em São Paulo, o fim da água na capital mais populosa do país me assombrou. Então a água vai acabar mesmo no mundo! Ao mesmo tempo em que vivem mandando a gente beber litros de água por dia, até sem sede. Que contrassenso!
                     Pois quando falaram em “reuso” da água do esgoto para aproveitamento, aí sim... meu apocalipse chegou!







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