Esta crônica faz parte do meu terceiro livro de crônicas "PIMENTA DE CHEIRO!
Perdoem, queridos leitores, mas hoje vou falar comigo mesma. Escrever, para
mim, é uma eficaz terapia e às vezes preciso me escutar também.
Correndo de um lado para outro, cheia de horários e compromissos, quase sem
tempo de fazer uma maquilagem, escolher a roupa certa ou mesmo de passar o fio
dental nos dentes como deve ser, às vezes até me surpreendo com o meu
pique, pois voltei a ter filhos pequenos com esta idade e administro duas casas
regularmente.
Este verão interminável também não ajuda muito. Estou, no momento, no meu
quarto, com a cama repleta de pastas, papéis e calculadora, com o ar ligado
para diminuir o sufoco das contas, fazendo a contabilidade da minha casa e da
casa da minha mãe. Ufa!
IPTU, IPVA, Imposto de Renda, material escolar e uniformes, prestações do Natal
e das férias e a Páscoa já se anunciando... que atire a primeira pedra quem não
ficou um tanto sufocado. Claro que me refiro apenas aos pobres e remediados, os
demais desconsiderem a provocação, por favor.
Minha mãe sempre teve fama de desorganizada. Reflito agora se não terá sido uma
fama injusta, uma vez que ela foi Secretária do Instituto de Educação Oswaldo
Aranha por trinta e cinco anos, num tempo sem computadores, com notas passadas
a caneta nos boletins e médias feitas em calculadoras de manivela. Como meu pai
era organizadíssimo, na comparação ela ficava em desvantagem. Agora,
cozinhar ela não sabia mesmo. Nunca aprendeu, nunca quis aprender, diz que é
apenas uma "teórica" da cozinha, daquelas que leem a receita e ficam
dando palpites - bem longe do fogão. Minha avó, sua mãe, cozinhava divinamente,
quem sabe desta concorrência é que nasceu esta outra fama também.
Eu cozinho como a minha avó e sou organizada como o meu pai. E daí? Sou
complicada, antissocial às vezes, gosto de ficar sozinha, detesto telefone,
adoro meus filhos e poucos prazeres na vida se comparam, para mim, a ler e
escrever.
Sempre
em volta com os netos, quase não tenho tido tempo de rezar, nem de pensar na
vida. Fico menos do que deveria e gostaria com a minha mãe. Tenho um marido companheiro,
que também aprecia um bom filme na TV, quietinho e não se queixa do tempo
(pouco) que consigo lhe dedicar. Além disso, me entende, me ajuda, segura a
minha mão.
De vez em quando, tenho ímpetos de voltar a fazer ginástica, tocar piano,
dançar. Qual o quê! Só espero que o Patrão Velho lá de cima recompense meu
esforço, a dedicação total a essas crianças que por motivos distintos dependem
tanto de mim e me deixe com saúde e energia por mais algum tempo aqui embaixo,
a fim de descontar o tempo em que voltei a ser mãe e voltando enfim a fazer
tudo o que gosto e do que acho falta. Isso quando a vida deles
engrenar, quando eu já não seja tão necessária e possa voltar a ser apenas a
vovó dos bolinhos de chuva, das histórias, das cantorias, dos beijos e colos.
Até lá... deixa eu terminar estes balancetes logo porque, daqui a pouco, já
estará na hora de buscar a pequena no colégio.
É cansativo. É um compromisso diário, inadiável e sem possibilidade de
cancelamento.
O outro lado (sempre tem) é que voltamos do colégio cantando e conversando
assuntos incrivelmente leves, engraçados, desestressantes.
Viu! Nada é totalmente ruim, nem bom.
É a vida!
PS: Depois dessa crônica pouca coisa mudou, a não ser que , além do Lucas e da Bruna, agora tem também a Alice e logo deve chegar a Lívia e que a minha casa continua a ser a creche preferida deles.
2 comentários:
Li esta crônica no teu livro, a novidade é a chegada da Lívia. Parabéns pela nova personagem!
Ana Lúcia Carbonell Martins.
Deve chegar em abril, mas já vai participando! bjos Ana Lúcia!
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