quinta-feira, 10 de abril de 2014

SEM TEMPO





Sabe, leitor, eu ando preocupada... Porque me vejo , cada vez mais, empurrada pelo relógio para tantos compromissos, que não me sobra quase tempo para fazer o que gosto.

Estou sem tempo para, por exemplo:
-         mastigar a vida;
-         entender a morte;
-         curar as doenças;
-         arrumar as gavetas;
-         olhar-me no espelho;
-         saborear os sucessos;
-         engolir os fracassos;
-         enfrentar os dissabores;
-         tocar piano;
-         ler e reler os livros;
-         responder os e-mails;
-         entender a correria;
-         ficar feliz;
-         entristecer;
-         chorar mansamente;
-         sorrir devagar;
-         ajudar ao próximo;
-         afastar o próximo;
-         sentir saudades;
-         saborear os encontros;
-         lamentar os desencontros;
-         ler todo o jornal;
-         conversar com os filhos;
-         curtir o neto;
-         fazer cafuné;
-         ganhar carinhos;
-         esperar a comida esfriar;
-         esquentar a comida;
-         folhear os álbuns;
-         vasculhar os cantos dos armários;
-         consertar as roupas;
-         experimentar roupa nova;
-         conversar com os amigos;
-         telefonar aos amigos;
-         ajeitar a casa;
-         fazer mudas das plantas;
-         ouvir o canário cantar;
-         rezar por tanta gente;
-         acender as velas;
-         fazer maquilagem;
-         retirar bem a maquilagem;
-         conversar com os vizinhos;
-         brincar com o cachorro;
-         seguir a receita do prato caprichado;
-         viajar ao sul e ao norte;
-         rever todas as pessoas queridas;
-         participar dos eventos;
-         dar comida aos peixinhos;
-         matear solita, cismando;
-         escolher, com calma, os produtos no supermercado;
-         namorar o marido;
-         VIVER!

Por isso, quero fazer um apelo ao Lula. Por favor, Presidente, deixe-me  aposentar! Há uma “vida” me esperando e não por muito tempo. Tenho 50 anos (idade linda!!!, redondinha ...literalmente), trabalho desde jovenzinha e não sou culpada  pela fome no mundo, já que meu salário é tão pouquinho. Só queria um pouco mais de tempo para fazer essas coisinhas que, juntas, dão sentido à vida da gente.
Deixa, vai!

Florianópolis, agosto de 2003.

Hoje, 11 anos depois, continuo sem tempo, embora aposentada.
Minha rotina mudou; ao invés de tantos alunos tenho duas netas lindas que dependem do meu tempo e uma mãe maravilhosamente idosa que também precisa de mim.
No entanto, já dizia Gabriela Mistral, "toda a natureza é um serviço/ serve a nuvem/ serve o vento/ serve a chuva" ...
E serve a Maria Luiza também!






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