segunda-feira, 10 de março de 2014

ÁLBUNS DE FOTOGRAFIAS




Não faz tanto tempo.
Se faz, não parece.
Tenho nas retinas o rosto de cada um e nos ouvidos suas risadas, suas vozes, suas discussões.
Sabia que não deveria abrir mais aqueles álbuns.
Maravilho-me e sofro.
Por que não consegui reter o tempo naqueles instantes mágicos das fotos?
Todos morreram. Todos morremos. Ninguém mais existe. Não daquele jeito.
Lembro das roupas, dos penteados, do sabor da comida e até do perfume de cada um.
Cadê aquela mulher menina, tão atribulada, tão cobrada, tão elegante, tão bonita e que sempre se achava feia e acima do peso, mesmo com uma cinturinha daquelas?
O espelho mente. Eu estou aqui! Aquela sou eu! Juro!
Os cabelos molhados, o pijama de bichinhos, os três pares de olhos grudados na história, as perguntas de difícil resposta, as mãozinhas rechonchudas folheando o livro para ver as gravuras, o amor rodopiando na sala. Onde estão? Para onde a vida os levou? O que fez a eles?
Socorro! Estão roubando tudo de mim! Onde foram parar os mais velhos, os sensatos, os amorosos, os conselheiros?
Alice no país das maravilhas... vou atrás dela, hei de encontrar meu paraíso perdido!
Não pode ter acabado tudo tão depressa. Ontem ainda... os álbuns comprovam... está tudo lá! Como eu não percebi o quanto era feliz?! Por que ninguém me avisou para viver devagarzinho, para não correr, para espichar os bons momentos, para curtir ao máximo? Por que ninguém me disse que nunca mais seria a mesma coisa, ou bom igual?
Devo avisar aos que vivem hoje?
Então, por favor, devagar!
Curtam cada momento, saboreiem cada palavra, prolonguem os abraços, estalem os beijos, segurem fortemente as mãozinhas, antes que cresçam e se evaporem do seu costado, antes que sejam devorados pelo mundo e pela correria insana da vida.
Dia a dia só piora, para nós que vamos ficando mais velhos, não acreditem nas falsas promessas.
Depois, restam os álbuns e o estranhamento.
Não deixem escapar as presenças, porque as ausências doem muito mais!





2 comentários:

Martha Tavares Pezzini disse...

Maria Luiza, Fiquei encantada com seu texto! Era como se fosse eu e os sentimentos, os mesmos!Todos deviam ler e sentir essa aura de amor que vivemos numa época!
Parabéns pela sensibilidade!

Maria Luiza Vargas Ramos disse...

Fico feliz Martha, por ter atingido tua sensibilidade!