Parece até uma contradição, mas só à primeira vista. Para quem sempre se
autodefiniu como "eclética", reclamar da música dos vizinhos parece
uma incongruência. Mas não é.
Deixo claro que gosto de "boa música" e, de preferência, no volume
adequado à audição de quem deseja ouvi-la, visto que me refiro à música ouvida
em casa e não em baladas.
Uma
vez, há muito tempo, nos meus primeiros anos de piano, dona Cyra Neves, minha
professora, disse que eu tinha "ouvido absoluto". Bem mais adiantada,
dona Rosalina, professora dos últimos anos, confirmou a declaração. Eu nem
sabia bem o que isso significava, além da facilidade de tirar de ouvido
qualquer música que acabasse de ouvir. Tocar "de orelha", como minha
saudosa professora recriminava, valeu-me os maiores aplausos, porque bem ao
gosto popular.
Em contrapartida, meus ouvidos dóem diante de desafinações, música muito alta
ou breguices. Esses funks, por
exemplo, acabam comigo!
Antigamente, tinha uma sinfonia de pássaros num terreno baldio ao
lado do meu prédio; depois, veio a construção de um prédio bem na janela do meu
quarto. Às 7h começava a serra elétrica, o radinho dos peões na pior
programação e ainda o coral desafinado dos pedreiros. Coisa de deixar qualquer
um doido!
No final de semana, quando a construção dava uma trégua para os ouvidos, aproveitava
para abrir as janelas e arejar a casa. Só que - castigo dos deuses - os
vizinhos resolviam desenferrujar suas vitrolas com músicas terríveis e num
volume de milhares de decibéis. É dor de cotovelo de um lado, música brega de
outro, pagodaços, tudo num volume máximo, como a querer nos obrigar a ouvir
também.
Não sei se sou eu a errada ou se tenho sempre os vizinhos errados. E olha que
nunca morei em favela, cortiço, ou periferia! São apartamentos de classe média,
bem localizados e com esse povinho miserável a torturar o ouvido da gente.
Por que nunca tive um vizinho que gostasse de música clássica, de João
Gilberto, de Chico Buarque, dos italianos, num volume adequado, gostoso de
ouvir?
Embaixo do meu apartamento tem um tal que toca na noite, sei lá onde, e passa
os finais de semana ouvindo aquelas músicas de chorar de feias, tentando tirar
no violão.
Ao lado, uma dona briga com o marido e coloca "anos 60" no volume
máximo. Tomar café da manhã, num domingo, ao som de "Banho de Lua" é
dose...
Um jogador de futebol treme as luminárias com os sons da Bahia o final de
semana in-tei-ro!
Enfim, joguei pedra na cruz mesmo.
Lembro que, em São Paulo,
onde meu filho fazia uma especialização e morava num daqueles condomínios com
milhares de pequenos apartamentos, para quem ia ficar pouco na cidade e queria
morar numa boa localização, um vizinho anônimo tocava saxofone em surdina
madrugada adentro. E cada música! Nunca tive esta sorte.
Penso que tudo passa pela educação, ou a falta dela. Quem não separa lixo, não
segura a porta do prédio para não bater, é claro que não vai baixar o volume
para respeitar o gosto musical do vizinho.
Um
dia ainda quero morar em Paris!
2 comentários:
Minha amiga sofro com poluição sonora há muito tempo.Hoje é uma obra vizinha que faz um ano com "sinfonia" bate,serra,guindaste e outras batidas insuportáveis.Graças que meus vizinhos são educados,a não ser alguma porta que bate às vezes.Pelo jeito ainda tem muita "sinfonia",pois saõ duas torres,uma com escritórias e outra moradia,haja ouvidos com esta poluição.
Pois é minha amiga... morar em apartamento tem dessas coisas... aqui no meu não tem este problema, o vizinho Sr. João do apto 301 gosta de música clássica, mas no volume certo. Fica até gostoso de ouvir...
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