terça-feira, 12 de março de 2013

AMOR



O primeiro filme “adulto” a que eu assisti foi “Um Homem e uma Mulher”, com o jovem, lindo e talentoso Jean-Louis Trintignant e a interessantíssima Anouk Aimée, ainda na década de sessenta, em Porto Alegre. Minha irmã Yara me vestiu e penteou “como moça” e me pediu para fazer uma cara mais séria, já que o filme era impróprio para menores de dezoito anos e eu tinha quinze. Foi uma emoção desde a bilheteria até a última palavra, passando pela música e pelas cenas de amor. Inesquecível!
Ontem, finalmente, consegui assistir “Amor”, eleito o Melhor Filme Estrangeiro pela Academia de Hollywood e que, para mim, deveria ter recebido o Oscar de Melhor Filme de 2012, uma vez que me pareceu bem superior ao escolhido e aos demais concorrentes. Novamente Jean-Louis Trintignant me encantou sobremaneira e penso que ele deveria ter disputado o prêmio de melhor ator, pelo desempenho impecável, ao lado da octogenária Emmanuelle Riva. Bem, quase sempre discordo da premiação e desta vez não foi diferente, mas não é sobre isso que quero falar.
Pretendo abordar o impacto do filme, com os ingredientes certos para motivar muita reflexão, amplo debate e descobertas que podem escapar a um espectador menos atento. Um filme sem efeitos especiais, com pouca música (e boa!), diálogos econômicos, no entanto, riquíssimo em expressões faciais, olhares, silêncios. Um filme onde nada acontece por acaso e nada aparece no cenário e na cena em vão, sem um profundo significado.
Para quem já passou dos cinquenta, para quem teve ou tem idosos na família, para quem tem filhos engolidos pelas profissões e embates da vida e, sobretudo, para quem está envelhecendo com um(a) companheiro(a), o filme retrata, como um soco no estômago, a realidade de um amanhã que só não chegará para quem morrer antes.
Mas atenção! Se não entrarmos no enredo, se não perscrutarmos todos os escaninhos apenas mostrados, corremos o risco de perder o essencial, aquele que, como disse Antoine de Saint-Exupèry, “é invisível aos olhos e só se vê bem com o coração”.
Um filme inovador, provocativo, acusador que vale a pena ser visto. E pensado.


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