O
primeiro filme “adulto” a que eu assisti foi “Um Homem e uma Mulher”, com o
jovem, lindo e talentoso Jean-Louis Trintignant e a interessantíssima Anouk
Aimée, ainda na década de sessenta, em Porto Alegre. Minha irmã Yara me vestiu
e penteou “como moça” e me pediu para fazer uma cara mais séria, já que o filme
era impróprio para menores de dezoito anos e eu tinha quinze. Foi uma emoção
desde a bilheteria até a última palavra, passando pela música e pelas cenas de
amor. Inesquecível!
Ontem,
finalmente, consegui assistir “Amor”, eleito o Melhor Filme Estrangeiro pela
Academia de Hollywood e que, para mim, deveria ter recebido o Oscar de Melhor
Filme de 2012, uma vez que me pareceu bem superior ao escolhido e aos demais
concorrentes. Novamente Jean-Louis Trintignant me encantou sobremaneira e penso
que ele deveria ter disputado o prêmio de melhor ator, pelo desempenho
impecável, ao lado da octogenária Emmanuelle Riva. Bem, quase sempre discordo
da premiação e desta vez não foi diferente, mas não é sobre isso que quero
falar.
Pretendo
abordar o impacto do filme, com os ingredientes certos para motivar muita
reflexão, amplo debate e descobertas que podem escapar a um espectador menos
atento. Um filme sem efeitos especiais, com pouca música (e boa!), diálogos
econômicos, no entanto, riquíssimo em expressões faciais, olhares, silêncios.
Um filme onde nada acontece por acaso e nada aparece no cenário e na cena em
vão, sem um profundo significado.
Para
quem já passou dos cinquenta, para quem teve ou tem idosos na família, para
quem tem filhos engolidos pelas profissões e embates da vida e, sobretudo, para
quem está envelhecendo com um(a) companheiro(a), o filme retrata, como um soco
no estômago, a realidade de um amanhã que só não chegará para quem morrer
antes.
Mas
atenção! Se não entrarmos no enredo, se não perscrutarmos todos os escaninhos
apenas mostrados, corremos o risco de perder o essencial, aquele que, como
disse Antoine de Saint-Exupèry, “é invisível aos olhos e só se vê bem com o
coração”.
Um
filme inovador, provocativo, acusador que vale a pena ser visto. E pensado.
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